Caso Marielle: ‘Julgamento demorou demais e favoreceu a impunidade’, diz especialista
Brasil de Fato
Nesta quinta-feira (31), o júri popular do caso Marielle entra no segundo e último dia. Acusação e defesa tiveram duas horas e meia cada para apresentar seus argumentos. Após o debate, o conselho de sentença, formado por sete jurados, todos homens, se reuniu para determinar por quais crimes os réus serão condenados. Até o fim do dia, a juíza Lucia Glioche determinará a sentença de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz.
Na terça-feira (30), a sessão se estendeu até quase meia-noite. Foram ouvidas testemunhas de acusação e de defesa, entre elas familiares de Marielle e Anderson Gomes e profissionais que trabalharam nas investigações. Os dois réus também prestaram depoimento.
Para analisar as implicações do caso e do julgamento, o programa Central do Brasil desta quinta-feira (31) recebeu Fernanda Valim, coordenadora do núcleo de ativismo da ONG Rio de Paz. Ela considera que as respostas para o caso ainda não são satisfatórias.
“Esse julgamento demorou demais, favoreceu a impunidade, favoreceu a destruição de provas. Ele não é só o julgamento dos assassinos da Marielle, é um julgamento de uma mentalidade que promoveu a impunidade do assassinato de uma mulher preta, cria da favela, representante popular democraticamente eleita. É a tentativa de assassinato da própria democracia brasileira. E a gente vê que o caso só andou depois que o ministro Flávio Dino botou força nas investigações da Polícia Federal, então, isso denota essa cultura de acobertamento e impunidade que existe no Brasil“, avalia.
A especialista ainda afirma que o julgamento pode ser útil para entender toda uma rede criminosa relacionada à questão fundiária no Rio de Janeiro.
“Não era a luta principal de Marielle, mas ela estava nessa pauta da questão fundiária, e como os próprios réus disseram, ela passou a ser uma pedra no sapato dos [irmãos Chiquinho e Domingos] Brazão, [apontados como mandantes do crime]. Ele tinha lá os loteamentos e foi ele quem prometeu os loteamentos aos assassinos. E olha, Ronnie Lessa já [era] um criminoso. Foi ‘saído’ da polícia por conta da sua extensa ficha criminal, eram coisas facilmente ‘investigáveis’. A maior dor que eu acho que existe tanto na família da Marielle, como na população, quando a gente toma conhecimento de todas as notícias em relação a como esse crime foi arquitetado e por quem, e com quanto tempo de antecedência, isso só fala da leniência do poder público e do desleixo da polícia no trabalho para conter o espraiamento da milícia no Rio de Janeiro.”
A especialista também acredita que deve se destacar o caráter político do crime.
“Tem sim, tudo a ver com política. Inclusive ontem no depoimento perante o tribunal, um dos delegados responsáveis pelas investigações, Guilhermo Catramby, falou das buscas que os assassinos faziam na internet. É assustador: ‘Lula enforcado’, ‘Marcelo Freixo morto’, conteúdos de racismo, conteúdos de neonazismo. Não foi apenas um crime ‘matou alguém que fazia coisa certa’. É um crime de ódio, de racismo e de ódio ideológico-político”, afirma Valim.
A entrevista completa está disponível na edição desta quinta-feira (31) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.