‘Nossa missão é garantir que todas as pautas sejam tratadas com participação popular,’ diz a vereadora eleita Vanda de Assis

Brasil de Fato

Vinda do Ceará para Curitiba há trinta anos, a assistente social e militante dos movimentos sociais Vanda de Assis foi eleita vereadora da capital em 2024, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), com 5.006 votos. Esta é a sua segunda eleição; em 2020, ela ficou na primeira suplência do partido.

Em entrevista para o Brasil de Fato Paraná, Vanda conta que sua eleição é resultado da sua atuação em um coletivo maior voltado às lutas populares. Também cita que, entre suas principais pautas de campanha e, agora, de trabalho como vereadora, está a luta por moradia digna, ampliação de vagas em Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs), transporte público seguro e gratuito, educação de qualidade e a valorização das servidoras e servidores públicos e especialmente promover a participação popular.

Confira a entrevista:

Brasil de Fato Paraná: Em primeiro lugar gostaria que contasse quando chega a Curitiba e quando começa teu envolvimento com política e militância

Vanda de Assis: Sou nordestina, nascida em Campos Sales, no Ceará, e estou em Curitiba há cerca de 30 anos. Vim para cá com toda a minha família, buscando o sonho de uma vida melhor. Já no Ceará, eu havia começado minha trajetória de luta, participando de movimentos populares ligados à Igreja. Foi nas Comunidades Eclesiais de Base [CEBs] e na Pastoral da Juventude que tive meu primeiro contato com a Teologia da Libertação, o que despertou em mim um forte senso de justiça social. Quando cheguei em Curitiba, isso me levou a me engajar nos movimentos sociais locais. Estudei, me formei assistente social e educadora popular, e passei a atuar no Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo.

Aqui, aprendi que a história de Curitiba e do Paraná também foi construída através de muita luta popular. Comecei a trabalhar diretamente com grupos de mulheres das periferias de Curitiba e da Região metropolitana, com catadoras e catadores de materiais recicláveis – com quem estou envolvida até hoje –, com o movimento da população em situação de rua, e a lutar por direitos humanos, moradia digna, e por um acesso mais justo à cidade para todos. Minha militância se fortaleceu no combate ao machismo, racismo, LGBTfobia e a todas as formas de violência geradas pela desigualdade social. Hoje, atuo na política de assistência social, atendendo crianças, famílias e mulheres vítimas de violência doméstica.

Por que decidiu se candidatar e se tornar vereadora

Para as eleições de 2020, nossa candidatura começou a ser construída ainda no início de 2019. Reunimos um grupo de pessoas comprometidas com as mesmas bandeiras para discutir como seria uma candidatura que representasse nosso campo, nossas lutas. Pensamos em nomes que pudessem ser a voz desse coletivo, e, após muita reflexão, o meu nome foi escolhido. Avaliamos vários fatores, entre eles a necessidade de continuidade, já que sabíamos que disputas eleitorais não são fáceis e que seria preciso um processo bem estruturado para garantir uma experiência real de mandato coletivo e popular.

Outro critério importante foi que o nome escolhido tivesse vínculos fortes com as lutas populares que representamos. Eu já estava inserida em movimentos de luta por moradia, com catadoras e catadores de materiais recicláveis, populações em situação de rua, mulheres e na educação popular, além de defender os direitos de servidores públicos, como assistentes sociais, psicólogos e professores. Por isso, fui designada a carregar essa missão: ser o nome que representaria o coletivo.

Organizamos nosso primeiro grande encontro no dia 3 de março, reunindo quase 200 pessoas. Naquele momento, traçamos um plano de campanha lindo, cheio de rodas de conversa e atividades de mobilização comunitária. Porém, logo em 20 de março, com o início do isolamento social, nosso planejamento teve que ser drasticamente adaptado. Defendemos o isolamento social desde o início, mas, como assistentes sociais e lideranças comunitárias, seguimos trabalhando na linha de frente, em campanhas de solidariedade e apoio às comunidades mais vulneráveis. Eu, por exemplo, continuava atuando no CREAS, com mulheres e crianças vítimas de violência doméstica e sexual.

Apesar de não termos conquistado a cadeira naquela eleição, obtivemos 2.705 votos, um resultado expressivo que nos colocou como a primeira suplente.

Sua campanha vem de um caminho já bem sedimentado há anos na sua militância. Como foi sua organização na campanha e qual sua base principal?

Nossa campanha foi organizada principalmente por militantes dos movimentos sociais com quem mantemos uma parceria de longa data, além de voluntárias e voluntários que acreditaram na construção de um mandato verdadeiramente popular em Curitiba. Formamos equipes dedicadas, tanto nas ruas quanto nas redes sociais, levando nossas ideias e propostas cada vez mais longe. Durante a campanha, companheiras e companheiros abriram as portas de suas casas para reuniões, onde tivemos a oportunidade de dialogar com quem ainda não nos conhecia. Foi uma campanha feita na raça e na fé, impulsionada pelo sentimento de esperançar.

Nossa base principal está na regional Cajuru, bairro que acolheu minha família e a mim quando chegamos a Curitiba em 1995. Participei, inclusive, da construção da Vila Acrópole, o que fortaleceu ainda mais nossa relação com a região. Temos uma atuação sólida no Cajuru e foi com grande orgulho que, pela primeira vez, uma candidatura progressista foi eleita ali. Além disso, nossa campanha também teve excelente aceitação no Centro, onde conquistamos uma votação expressiva, mostrando que nossas propostas ressoam em diversas partes da cidade.

Quais as pautas principais que deseja trabalhar em seu mandato?

Minhas principais pautas estão voltadas para a defesa dos direitos das mulheres, pessoas pretas, comunidade LGBTI+, crianças, idosos, pessoas em situação de rua, pessoas com deficiência, catadoras e catadores de materiais recicláveis e todas as populações mais vulneráveis. Acredito que a política precisa ser construída a partir da realidade de quem mais precisa. Por isso, pretendo realizar assembleias populares para ouvir e dialogar diretamente com a população, criando, juntos, projetos que atendam às suas necessidades.

Entre minhas prioridades estão a luta por moradia digna, ampliação de vagas em CMEIs, transporte público seguro e gratuito, educação de qualidade e a valorização das servidoras e servidores públicos. Nosso mandato será construído com muitas mãos e corações, de maneira popular e participativa.

Diversos coletivos que fazem parte da construção da nossa candidatura já contribuíram com propostas que vão guiar nosso trabalho em áreas fundamentais como assistência social, cultura, democracia e transparência na gestão urbana, direito à cidade, mobilidade, moradia, direitos humanos, economia solidária, educação, infância, juventude, meio ambiente, saúde, segurança pública e trabalho. Nossa missão é garantir que todas essas pautas sejam tratadas com seriedade, comprometimento e participação popular.

Da Redação