Em Maricá (RJ), juventude do MST desconstrói mitos sobre a luta por reforma agrária no país
Brasil de Fato
O programa Papo na Laje, que foi ao ar nesta quinta-feira (31), às 18h, continua na Fazenda Pública Joaquín Piñero, em Maricá, região metropolitana do Rio de Janeiro. A apresentadora Dani Câmara recebeu dois jovens do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para uma conversa sobre a trajetória de cada um deles, desde a infância, no principal movimento popular pela reforma agrária no Brasil.
No episódio, Daniel Rodrigues e Indianara dos Santos também desconstroem o mito de que o MST “invade” terras. Na verdade, todo processo de identificação de terras improdutivas, ocupação e permanência das famílias envolve uma série de processos organizativos e trabalho de base.
“O latifúndio tenta criminalizar algo que é legítimo e está na Constituição. Terras improdutivas não cumprem nenhuma função social, de alimentar, de produzir comida, de ter famílias sobrevivendo. Muitas dessas terras são griladas, não têm documentos, foram conseguidas a base da desapropriação ilegal, da violência contra camponeses e camponesas”, disse Daniel, técnico em agroecologia.
“A gente não invade terra de ninguém. O movimento ocupa terras improdutivas com famílias que precisam ter um pedaço de terra para plantar e ter sua sobrevivência”, completa Indianara.
Juventude do MST
O que representa ser um jovem do MST? Para Daniel, “significa dar sentido para a vida com todas as suas possibilidade a partir da luta coletiva”. Já Indianara, que faz parte do coletivo de juventude do MST, afirma que dá continuidade à luta dos pais, assentados da reforma agrária no Paraná.
“A luta que nossos pais iniciaram lá atrás vem com todas as questões que envolvem a permanência no campo, ter uma produção [agrícola] saudável, e direitos assegurados. Quando eu nasci meus pais já faziam parte do MST no Paraná. Pude conviver no processo de acampamento até meus cinco anos, minha família contribuiu na escola de agroecologia e depois foram assentados em Cascavel”, disse.
Os dois jovens fazem parte da coordenação pedagógica do método de alfabetização “Sim, Eu Posso” em Maricá, que também foi tema do Papo na Laje nesta terceira temporada. Eles integram a Brigada Nacional Joaquín Piñero em Maricá, em homenagem ao militante histórico do MST que contribuiu com a elaboração de diversos projetos junto à cidade.
Assista
Organização popular
Daniel Rodrigues afirmou que os acampamentos e assentamento do MST buscam construir uma comunidade para o bem comum, o que envolve a convivência, a matriz de produção agroecológica, as relações sociais. “Tudo que envolve a vida, o ser humano, a natureza, nossos bens comuns, são motivo de partilha. Envolve desde a gente que é jovem, até a criança, o idoso”, disse.
Nesse sentido, uma comunidade sem terra tem como primeiro objetivo o próprio sustento, plantar para alimentar. Outras demandas também são apontadas pelos jovens como principais como as escolas do campo, formação e capacitação técnica, como Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) que possibilita acesso da alfabetização ao ensino superior.
“O processo de ocupação forma os acampamentos e o barracão da produção. Com organização dos coletivos em núcleos de base, fazemos um trabalho voltado à produção de alimentos. A partir desses pequenos coletivos conseguimos organizar outras frentes como a formação, educação, saúde, produção, todas as questões que envolvem um coletivo na mesma área”, finaliza Indianara.
Papo na Laje
O Papo na Laje é um programa de TV que valoriza o protagonismo da juventude nas favelas e periferias do Rio de Janeiro. A cada novo episódio a apresentadora Dani Câmara recebe dois convidados que compartilham experiências sobre temas de interesse da juventude.
A terceira temporada do programa conta com a parceria da Incubadora de Inovação Social em Cultura de Maricá, um projeto desenvolvido pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTIM), junto à Secretaria Municipal de Cultura e ao Instituto Brasil Social (IBS).