Mais de 2,5 mil voluntários ajudam em recuperação da Floresta Nacional de Brasília

Brasil de Fato

Após 17 dias do incêndio que atingiu a Floresta Nacional de Brasília (Flona), a esperança de recuperar a unidade de conservação ambiental, e principalmente a fauna, continua viva com o apoio do grupo de voluntários. Com o objetivo de resgatar e auxiliar os animais afetados e revitalizar as áreas atingidas, atualmente a Flona conta com mais de 2,5 mil pessoas mobilizadas nesta tarefa.

Segundo o edital de voluntariado em unidades de conservação, a proposta é estabelecer que voluntários adquiram experiência na prática da conservação da natureza, permitindo ainda a integração comunitária, educação e interpretação ambiental e desenvolvimento sustentável, aprimorando os conhecimentos para formação profissional, educacional e pessoal.

Além disso, o grupo também está mobilizado para a revitalização das trilhas e áreas atingidas pelo incêndio, a desobstrução de vias e trilhas atingidas por quedas de árvores e logística de coleta. O documento também estabelece o preparo e deslocamento para suplementação de água e alimentos para os animais pós-incêndio de setembro de 2024 e a realização de mutirão de plantio de mudas e sementes nas áreas atingidas pelo incêndio de setembro de 2024.

O chefe da Flona, Fábio Miranda, conta que os voluntários ajudaram desde o início das chamas, com o combate nos primeiros minutos do fogo que atingiu a Floresta no início deste mês. Agora, a ajuda é mais organizada, com duas frentes, sendo a primeira a de suporte a fauna.

“É um aporte nutricional de alimentação, já que grande parte da área onde os animais se alimentavam foi devastado. Então, restou pouco alimento para eles. Os voluntários trazem doações e são inúmeras pessoas, e sabemos que por trás delas também tem outros grupos que se organizam, fazem vaquinha e levam alimentos para lá”, conta Miranda.

Como os voluntários ajudam?

Nessa frente, o grupo ainda é dividido em voluntários que recebem os alimentos, separam os que estão em boas condições e fazem a higienização dos itens recebidos. Depois, um grupo vai a campo levar os donativos para os locais prioritários. O chefe da Flona conta que essa ação é importante para que os animais não se sintam pressionados a atravessar as rodovias para buscar alimentos, evitando, assim, que eles sejam atropelados na travessia, além de evitar problemas nutricionais pela escassez de comida.

A chefia da unidade de conservação também informa que, neste momento, estão sendo priorizados alimentos mais próximos aos que a fauna local consome, sendo, assim, as frutas do Cerrado. “Às vezes, é difícil da gente encontrar. Mas elas são essenciais até para eles não se acostumarem com outras frutas que eles não vão encontrar depois na natureza. Então, nós tivemos esses dias uma doação do fruto da lobeira, que o lobo-guará adora muito”, diz Miranda.

Nas redes sociais, a Flona também lista os alimentos para doar, sendo eles: mandioca com casca, batata-doce e frutos do Cerrado. Não deve ser disponibilizado lixo orgânico humano e de animais, frutas podres, além de cenoura e abóboras.

Já uma segunda frente, são os voluntários responsáveis pela limpeza e desobstrução das estradas e trilhas da Floresta Nacional. O grupo atua na retirada de árvores que oferecem risco de queda e na limpeza das que já caíram nas estradas. Segundo Miranda, o grupo já liberou praticamente dois terços da Flona.

“O grupo chegou a cortar mais de 200 árvores por dias, sendo as já condenadas que poderiam cair a qualquer momento. Com isso, temos promovido um ambiente mais seguro. Creio que em breve a gente vai liberar novamente a visitação na unidade por conta desse trabalho incansável aí principalmente dos voluntários”, diz Fábio ao lembrar que o parque segue temporariamente fechado.

Na semana passada, a chefia da unidade de preservação realizou uma reunião para orientar às que queiram ser voluntariadas na operação de recuperação da Flona. A ocasião foi realizada na sede da unidade, localizada na BR-070, km 01, em Taguatinga.


Grupo de voluntariados em reunião na Flona / Foto: Rafaela Ferreira/Brasil de Fato DF

Presente na atividade, Viviane Barbosa, do Grupo Escoteiro Tribo Judá 43 DF, situado dentro do Parque Três Meninas, afirmou que, quando às chamas atingiram a Floresta, todo o grupo de escoteiro se mobilizou. “Todo mundo chorou e ficou desesperado. Vários escoteiros – que já são adultos e estão na Universidade de Brasília, são biólogos e outras profissões – estão aqui auxiliando a Flona”, destaca.

“Eles vieram por conta própria, o que mostra que o trabalho está dando resultado. Imagine um universo de 100 pessoas que não conhecem a Floresta Nacional, e eles, desde pequenininhos, com apenas 6 anos e meio, hoje estão aqui. Nessa reunião de chamamento público, vieram cinco. O impacto dessas cinco pessoas é enorme, ou seja, o trabalho na educação ambiental realmente está funcionando”, destaca.

Fábio Miranda também conta que uma grande parte do voluntariado ainda não foi acionado. O edital de chamamento dos voluntários ainda prevê que será realizado um mutirão de plantio de mudas e sementes nas áreas atingidas pelo incêndio de setembro de 2024. A previsão é que a ação ocorra na segunda quinzena de outubro, quando as chuvas devem ter uma constância maior. “Caso contrário, vamos arriscar perder muitas mudas, e das sementes não vingarem”, explica o chefe da unidade.

Depois das chamas

O incêndio que atingiu a Floresta Nacional de Brasília (Flona) foi o pior dos últimos 10 anos, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O fogo foi controlado após cinco dias de combate, sendo declarado como extinto na sexta-feira (7). Ao todo, a área queimada é de 2.586 hectares, equivalente a 45,85% da unidade de conservação federal.

Ao todo, 104 árvores com risco iminente de queda foram cortadas e galhos foram removidos das vias para garantir a segurança e o acesso das equipes e um total de 16.9 km das vias foram desobstruídas até o momento. Além disso, foram realizadas operações de monitoramento e resfriamento dos pontos quentes nas duas nascentes com o uso de água.

Além do ICMBio, diversos outros órgãos federais e estaduais estiveram no processo de combate e recuperação a Flona, como o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Jardim Botânico de Brasília, Zoológico de Brasília e Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF).

Para Carol Schubart, coordenadora do Plano de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do DF, pós-incêndio é um momento em que os órgãos estaduais devem unir forças para poder recuperar a área, principalmente, em incêndios de grande tamanho e gravidade como foi na Flona.

“Vimos a necessidade de criar-se um comitê de uma rede de apoio para que a gente possa apoiar no combate e nas recuperações. Então, logo depois que teve aqui a situação do incêndio a gente já trouxe o pessoal dos zoológicos para fazer o resgate de fauna, e a gente continua com o pessoal aqui do Ibama, do ICMBio é a gente trouxe tratores aqui ontem para conseguir fazer a limpeza da área e poder restaurar a Flona”, explica.


Chamas tomaram conta da Floresta Nacional de Brasília no dia 3 de setembro deste ano / Foto: João Stangherlin/APA do Planalto Central

Da Redação