Embates x propostas: é hora de escolher
Brasil de Fato
35 dias. Esse foi o tempo da propaganda eleitoral gratuita de 2024 — pelo menos, até agora. Caso haja segundo turno após domingo (6), teremos mais 15 dias de divulgação de projetos na televisão e nos rádios do Brasil.
Porém, tal qual os debates das últimas semanas, os candidatos e candidatas aproveitam seu espaço mais para atacar os concorrentes do que para defender suas próprias propostas. A noite de ontem (3) foi a epítome de todo este processo, com debates das principais capitais brasileiras.
Em São Paulo (SP), o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi alvo dos concorrentes. O aumento da população em situação de rua na capital, as filas nos atendimentos de saúde e a privatização do serviço funerário foram alguns dos temas trazidos pelos outros candidatos, ao que Nunes se defendeu afirmando que fez um governo liberal — não que isso seja bom.
A capital paulista acompanha um empate técnico entre o ex-prefeito, Guilherme Boulos (Psol) e Pablo Marçal (PRTB), e os dois últimos trocaram acusações entre si e subiram o tom ontem à noite.
No Rio de Janeiro (RJ), o atual prefeito Eduardo Paes (PSD) também foi alvo dos concorrentes. Líder nas pesquisas e com possibilidade de ser eleito logo no primeiro turno, foi criticado devido aos problemas de segurança pública enfrentados pela capital fluminense e em setores como saúde e educação.
O atual prefeito de Porto Alegre (RS) também está na liderança nas pesquisas da cidade, mesmo que as enchentes na capital sejam largamente pautadas nos debates. Ontem, Sebastião Melo (MDB) foi questionado sobre o colapso da cidade por conta da falta de manutenção do sistema de proteção contra inundações.
As longas filas nos hospitais, a falta de moradia popular e de vagas em creches, a privatização da educação e a preservação ambiental também apareceram. Maria do Rosário (PT), que aparece em segundo lugar ou mesmo em empate técnico com Melo em algumas pesquisas, afirmou que “o prefeito construiu zero casas e criminalizou a população” durante sua gestão.
Ainda na região Sul, o debate para Curitiba (PR) trouxe o líder das pesquisas Eduardo Pimentel (PSD) encurralado pela denúncia de “rachadinha eleitoral” e censura a um site local que divulgou a informação. Ainda assim, o candidato do presidente Lula (PT) e que está em segundo lugar nas pesquisas, Luciano Ducci (PSB), evitou o tema — provavelmente para evitar um confronto que prejudique sua imagem.
E em Florianópolis (SC), o debate trouxe visões antagônicas e o atual prefeito Topázio Neto (PSD) também como alvo. A atual gestão foi chamada de “a mais corrupta da história” e foram prometidas melhorias nos serviços de saúde e de educação, com diferentes tipos de propostas.
Indo para o outro extremo do país, o atual prefeito de Recife (PE) João Campos (PSB), e alvo dos concorrentes, foi criticado pelo programa “Infância na creche”, de convênio com instituições privadas, em que cerca de um terço das creches pertencem a candidatos a vereador a ex-assessores da sua base, e pela falta de investimento no consórcio de transportes.
Já em Belém (PA), a COP-30 atravessou todas as pautas direta ou indiretamente, mas, ao mesmo tempo, temas ligados ao enfrentamento ao desmatamento, defesa do bioma e mudanças climáticas não foram mencionados, mesmo sendo o principal eixo da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, que será sediada na cidade.
Em Fortaleza (CE), a criação da taxa de lixo e a polêmica em torno da CPI do Narcotráfico foram os principais temas; Teresina (PI), por sua vez, trouxe embates sobre saneamento básico e saúde; em Natal (RN), o candidato Carlos Eduardo (PSD) foi criticado por ter tido diversas chances de melhorar a cidade, sem nunca fazer algo de impacto; e em Goiânia (GO), um debate morno favoreceu justamente quem já está no topo das pesquisas, Sandro Mabel (UB) e Adriana Accorsi (PT).
A tática dos ataques pode funcionar, pero no mucho. Embates e troca de insultos costumam viralizar nas redes sociais, porém a falta de apresentação de propostas não ajuda o eleitor a decidir quem realmente tem o melhor projeto para a sua cidade.
E são posturas assim que, com frequência, acabam criando todo o discurso antipolítica que inclusive é defendido por muitos candidatos. A ideia de romper com um sistema supostamente falido é atraente e, no fim, acaba sendo muito mais sobre quem foge do padrão do que sobre quem tem propostas mais interessantes.
O Brasil de Fato, inclusive, fez um balanço impresso da situação eleitoral para a cidade de São Paulo para, quem sabe, dar uma ajudinha para quem não sabe para onde correr. E no site, a cobertura não parou em momento algum, trazendo destaques dos debates e das pesquisas, e outras investigações que podem te ajudar na escolha.
No fim das contas, o que precisamos lembrar é da importância do voto. Afinal, vivemos nas cidades e queremos ter uma experiência boa, pensando em tudo ao nosso redor. O voto não deve ser desperdiçado e nosso papel não termina domingo, pois precisamos cobrar os eleitos. Para agora, essa é a mensagem que importa.
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Nos vemos do outro lado,
Rafaella Coury
Coordenadora de Redes Sociais