‘Mobilizar a cidade, mostrar quem são os responsáveis por esse abandono’, diz representante do MAB sobre segundo turno em Porto Alegre

Brasil de Fato

A liderança de Sebastião Melo (MDB) no primeiro turno das eleições municipais em Porto Alegre (RS), com 49,72% dos votos, gerou uma série de debates sobre o cenário político e o desafio da oposição no jogo no segundo turno. Apesar do resultado, para Leonardo Maggi, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o processo das enchentes marcou presença no processo eleitoral.

“Seja no debate, seja nas propostas, e mesmo do ponto de vista eleitoral. Muito provavelmente o governo, o candidato Melo, poderia ter ganhado no primeiro turno, se não fosse essa série de contradições que as enchentes revelaram”, avalia. Ele pontua também a insatisfação da população com a piora na qualidade dos serviços públicos, mas destaca a alta abstenção como outro “reflexo desse processo”.

Maggi lembra que, por conta da situação de calamidade, as prefeituras, inclusive Porto Alegre, receberam muito recurso da União. “Foram R$ 98 bilhões que o governo federal disponibilizou para o processo de reconstrução do Rio Grande do Sul. Qualquer prefeito com uma inundação, com essa quantidade enorme de valores, teria condição muito favorável para conquistar uma eleição, uma reeleição.”

Confira a reportagem em vídeo:

A cientista política e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Silvana Krause, entende que, num primeiro momento, a tragédia refletiu na imagem do atual prefeito, o que foi revertido no momento pós-tragédia.

“Claro que quem está na frente da máquina, da administração, sai com vantagem, porque ele tem condições de usar mais para dar a tal da assistência, e dar a sensação de que está presente. Eu não estou falando de qualidade da presença do poder Executivo, do incumbente, eu estou falando que tem a presença e, aí, a sensação de que não estamos abandonados”, afirma.

A estratégia de marketing da campanha do atual prefeito também é uma questão que merece análise. “Quando ele usa ‘água não tem ideologia’, ele está pegando um eleitor de Porto Alegre que é de centro. Porto Alegre é uma cidade de centro-esquerda, as pesquisas mostram isso.”

Ela destaca que, no primeiro turno, foi desafio para as campanhas de Melo e de suas principais concorrentes, Rosário e Juliana Brizola (PDT), trazer esse eleitor de centro. “O prefeito sabia disso muito claramente e, mesmo ele tendo uma candidata do PL de carreira militar [como vice], ele não cola Bolsonaro na campanha em Porto Alegre. Tanto que na eleição de 2022 é o Lula que ganha aqui em Porto Alegre.”

Entender a abstenção

Porto Alegre foi a capital com maior índice de abstenção, com 31,51%. Rosário aposta nesses eleitores para superar Melo no segundo turno. Para Silvana, é importante entender quem é esse eleitor, quando os dados estiverem disponíveis.

“Se a gente olhar a eleição de 2020, que foi uma eleição municipal, a eleição de 2022 foi uma eleição nacional, a gente percebe o seguinte: gênero. Mulheres predominam nas diferentes faixas de escolaridade. E onde elas mais predominam na abstenção? Nas baixas faixas de escolaridade. Os homens, o comparecimento é maior, ou seja, a participação é maior de homens. E olhando a escolaridade de homens e mulheres e abstenção, mulheres, quanto mais baixa a escolaridade, menor o comparecimento”, analisa.

“Uma nova eleição”

O dirigente do MAB afirma que o movimento entende que “o segundo turno é uma nova eleição”, mas ressalta o desafio em reverter os votos para a vitória de Maria do Rosário. “Temos que reconhecer que houve um avanço, eleitoralmente falando, das forças mais conservadoras no Rio Grande do Sul. Nominalmente falando, eles aumentaram muito a quantidade de massa de eleitores que confiaram num projeto mais conservador.”

Segundo ele, esse é o desafio dos movimentos populares e da esquerda. “Mobilizar a cidade, mostrar quem são os responsáveis, mostrar quem são os culpados realmente por esse abandono, tanta destruição. É muito triste caminhar pela cidade e ainda ver, como uma cicatriz, a marca da lama nas paredes das casas, na parede dos comércios.”

Maggi recorda que mesmo o sistema de bombeamento da água da chuva “está ainda totalmente destruído”, ao lembrar que ruas voltaram a alagar em um dia de chuva na semana antes da eleição. Para ele, “essa política de destruição é que está nas urnas” e cabe aos movimentos sociais e partidos dialogar com a população.

Da Redação