Em Natal, candidatos buscam reverter abstenção de 25%, a maior entre capitais nordestinas no primeiro turno
Brasil de Fato
Na reta final do segundo turno das eleições municipais de Natal (RN), os candidatos a prefeito intensificam os esforços para reverter a alta taxa de abstenção registrada no primeiro turno. A cidade teve o maior índice de abstenção entre as capitais nordestinas.
Ao final das urnas apuradas, a capital potiguar registrou 25,22% de abstenção, o que corresponde a 145.176 eleitores que estavam aptos a votar e não participaram. Conquistar esse grupo de ausentes pode ser decisivo para o desfecho da disputa entre os deputados federais Natália Bonavides (PT) e Paulinho Freire (União Brasil).
De acordo com César Sanson, professor de ciências sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a ausência nas urnas reflete tanto questões estruturais quanto um desencanto com a política. “Observamos altos índices de abstenção em todo o Brasil, e Natal não foi diferente. Um dos problemas é o transporte público deficitário, que dificulta o deslocamento das pessoas. Além disso, há um cansaço generalizado, uma descrença de que a política possa realmente mudar algo na realidade dessas pessoas”, afirmou.
A disputa em Natal está acirrada. Segundo a mais recente pesquisa da Quaest, os dois candidatos estão tecnicamente empatados, com uma leve vantagem numérica para Freire. Já a pesquisa Atlas Intel, divulgada na última terça-feira (22), aponta liderança do candidato do União Brasil com 54,4% das intenções de voto, enquanto a adversária do PT aparece com 44,3%.
Os dois também disputam o apoio dos eleitores de Carlos Eduardo (PSD), que ficou em terceiro lugar no primeiro turno. Para Sanson, o eleitorado de Carlos Eduardo tende a se identificar mais com Bonavides. “Um apoio explícito de Bolsonaro a Paulinho Freire poderia afugentar os eleitores de Carlos Eduardo. As pesquisas indicam que a maioria dos votos desse eleitorado migra para Natália, e não para Paulinho”, destacou o professor.
Freire conta com o apoio do atual prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), e do senador Rogério Marinho (PL), além de setores do bolsonarismo no estado. No entanto, a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro não tem sido explorada em sua campanha. De acordo com Sanson, a decisão de Freire de evitar associar sua imagem à de Bolsonaro visa não atrair a rejeição ao ex-presidente, que ainda é alta na capital potiguar. “Embora Freire tenha o apoio das forças bolsonaristas, ele não é um bolsonarista raiz, mas está junto com esse grupo. A ausência de Bolsonaro na campanha deve-se ao fato de que ele tem uma rejeição significativa aqui”, explicou o especialista.
Natália recebe João Campos em Natal
Por outro lado, Bonavides aposta no apoio da governadora Fátima Bezerra (PT) e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na semana passada, Lula participou de um comício na Zona Norte de Natal, uma região onde Bonavides e o PT enfrentam maior resistência eleitoral. “O PT sempre teve dificuldade de enraizamento na periferia, especialmente porque o apoio popular que o partido tinha nos anos 80, muito ligado à igreja progressista, se desfez com o tempo”, analisou Sanson.
Outro apoio relevante para a deputada é a visita do prefeito do Recife, João Campos. O socialista desembarca em Natal, nesta quinta-feira (24), para uma agenda com a candidata petista, no ato chamado “Piseiro do 13”.
Com votação histórica no Recife, obtendo 78,12% (725.721), o pernambucano tem viajado para outras capitais para reforçar palanque de aliados. Esteve em atos de Evandro Leitão (Fortaleza) e Igor Normando (Belém), e amanhã deve reforçar a campanha de Dr. Johny (Campina Grande – PB).
Campos, além de ser um dos quadros mais relevantes do PSB nacionalmente, tem um engajamento alto nas redes sociais, com mais de 2 milhões de seguidores, fatores que são uma importante ferramenta na reta final do segundo turno.
Ele também tem se dedicado às candidaturas de Vinícius Castello (PT), em Olinda (PE), e de e Júnior Matuto (PSB), em Paulista (PE). As duas cidades ficam na Região Metropolitana do Recife.
Em Natal, o cenário segue indefinido, e ambos os candidatos se preparam para o último debate televisivo, marcado para sexta-feira (25), dois dias antes da votação, que será decisivo para conquistar os eleitores indecisos e aqueles que ainda não compareceram às urnas