TV precisa inovar em debate para não prevalecer lógica nociva das redes sociais, diz especialista

Brasil de Fato

Os últimos debates televisivos entre candidatos à prefeitura de São Paulo foram marcados por bate-boca, trocas de ofensas e até agressão física, deixando as propostas para a gestão municipal de lado. Isso foi evidenciado no evento promovido pela RedeTV! e Uol, na última terça-feira (17), e no encontro da TV Cultura, no domingo (15), quando José Luiz Datena (PSDB) deu uma cadeirada em Pablo Marçal (PRTB). 

Os fatos recentes acontecem porque a disputa eleitoral tem sido cada vez mais influenciada pelas redes sociais, explica Márcio Moretto, professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital. Ele comentou sobre esse fenômeno durante o jornal Central do Brasil.   

“A gente tem observado, nos últimos anos, que o papel das mídias sociais tem sido muito mais proeminente. Infelizmente, a disputa nas mídias sociais recompensa muito essas baixarias. Por exemplo, depois do episódio da cadeirada, para se ter uma ideia, o candidato Datena ganhou mais de 120 mil seguidores no Instagram, que é uma das redes agora que tem mais importância nos debates políticos [com o bloqueio do X no Brasil]. E o Marçal ganhou mais de 600 mil seguidores.”

O especialista comenta que esse alto crescimento nas redes se deu apenas dois dias depois do debate com a agressão. “Quer dizer: tem uma dinâmica, uma lógica das mídias sociais que, de alguma forma, recompensa esse tipo de atitude. Tanto as provocações que o Marçal tem feito reiteradamente nos debates, nas mídias sociais, na sua propaganda, quanto a agressão que, enfim, [foi] lamentável.”

E as cenas de provocação e agressão talvez tenham influenciado também as intenções de voto dos eleitores, pelo menos neste momento. A pesquisa Quaest divulgada nesta quarta (18) apontou que, enquanto Datena oscilou dois pontos percentuais para cima, Marçal perdeu 3% em relação ao último levantamento do mesmo instituto. 

Em São Paulo, onde existe um número alto de indecisos, os debates seguem muito relevantes para a maioria dos eleitores, conforme apontou o Datafolha na semana passada. Mas é preciso ter um programa de governo: sete em cada 10 brasileiros atribuem bastante importância às propostas dos candidatos na hora de definir o voto, conforme o estudo.

Moretto destaca que, diante dos acontecimentos, o formato dos debates precisa inovar e garantir espaço para exposição de ideias. Os seis candidatos mais bem posicionados nas pesquisas devem se encontrar novamente na sexta-feira (20), no debate promovido pelo SBT.  

“A democracia perde muito se a gente não conseguir fazer debates, de fato, com uma apresentação de propostas. Nesse ano, em São Paulo, especificamente, está muito difícil. A gente vê Tabata Amaral [PSB], Guilherme Boulos [Psol], às vezes o [Ricardo] Nunes [MDB] também, tentando fugir dessas armadilhas de um pseudo-debate que, no fundo, é só lacração. Mas o que tem atrapalhado muito é que, principalmente, o candidato Pablo Marçal tem usado o debate para fazer seus cortes para as mídias sociais.”

“A gente tem candidatos que estão tentando apostar numa outra via e não cair nas provocações, apresentar as propostas. Acontece que, enquanto o jogo está sendo jogado nas mídias sociais, elas promovem, de alguma forma, um comportamento muito hostil”, lamenta.

O professor da USP elogia o tipo de debate em que existe a checagem do que é dito pelos candidatos em tempo real, como tem acontecido nos Estados Unidos. 

“A gente tem que experimentar formatos de debate – e, nas últimas eleições presidenciais, tiveram algumas tentativas de inovação. E isso dos Estados Unidos, com as checagens de fato ao vivo, são medidas bem-vindas aqui para o debate que a gente deveria experimentar. Porque, se a gente não inova no debate televisivo, o que acaba acontecendo é que prevalece a lógica das mídias sociais. E essa lógica das mídias sociais tem sido bem nociva para o debate público”, argumenta.

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quarta-feira (18) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube

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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, às 13h10, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

Da Redação