Em discurso no Brics, Maduro pede reforma no sistema financeiro internacional e mudança na ONU

Brasil de Fato

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu nesta quinta-feira (24) uma reforma no sistema financeiro e monetário internacional que seja feito de maneira ampla e que contemple os países do Sul global. A fala foi feita durante o discurso do venezuelano na cúpula do Brics, realizada em Kazan, na Rússia. 

De acordo com Maduro, o bloco liderado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul criou um novo paradigma na disputa econômica e política em nível global. Segundo ele, é preciso mudanças profundas no comércio e no sistema financeiro internacional, que hoje busca impor a hegemonia de países “coloniais”.

“É preciso uma nova agenda econômica para o comércio internacional, com soluções práticas para o intercâmbio monetário. É uma necessidade, um novo sistema monetário mundial. E temos que dizer com nome e sobrenome. Não se trata só de fazer pequenas reformas no sistema monetário e financeiro, que parece não aguentar reformas, porque querem reimpor a hegemonia de países coloniais do ocidente pelos mecanismos da moeda, do sistema financeiro, dos créditos, dos pacotes econômicos com condições econômicas”, afirmou o mandatário. 

Maduro disse que o comércio global precisa contemplar uma cesta de moedas que inclua não só as dos países hegemônicos, como o dólar e o euro, mas que tenha também a possibilidade de uso de dinheiro local. Ele pediu “passos mais audázes” do Banco do Brics nos investimentos em países do Sul e na criação de um novo banco de pagamentos.

O venezuelano destacou também a necessidade de uma reformulação da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o mandatário, o organismo cumpriu um papel importante em determinado momento histórico, mas precisa ser reestruturado para se adaptar ao novo contexto de um mundo “multipolar e multicêntrico”. 

“Depois da 2ª Guerra Mundial, a reconfiguração de um sistema das Nações Unidas centrou os esforços de todos os povos e efetivamente se estabeleceu um sistema que criou uma grande esperança e fixou as bases do direito internacional, que foi assumida de maneira consciente e voluntária por países de todas as regiões do planeta. É preciso refundar o sistema das Nações Unidas. Cada vez que cai um míssil de alta precisão em um prédio em Gaza, eles incendeiam e destroem a própria disposição da ONU”, afirmou. 

O presidente da Venezuela criticou a ineficiência das Nações Unidas em relação aos ataques realizados por países como Israel na Faixa de Gaza e afirmou que o Brics surge para contrapor a lógica da Corte Internacional de Justiça de inanição em relação aos massacres promovidos pelas superpotências. 

“O Brics surge num momento de mudança da época histórica. Surgiram novas superpotências e países que, modestamente como a Venezuela, Cuba e Nicarágua, aspiramos que se respeite o direito à nossa independência, futuro e desenvolvimento”, disse. 

Expansão sem a Venezuela

O país ficou de fora da nova rodada de expansão do Brics por conta de um veto do Brasil – segundo apurou o Brasil de Fato – , apresentado durante as negociações preliminares da cúpula. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que os países líderes do Brics chegaram a um consenso sobre os “critérios e princípios” que irão reger a expansão do bloco no futuro. A afirmação foi feita na última quarta-feira (23) durante uma entrevista coletiva à mídia brasileira presente em Kazan, na Rússia, durante a 16ª Cúpula do Brics.

“A discussão foi sobre os critérios e os princípios que vão orientar a ampliação futura dos Brics. Agora, são 10 países e, no futuro, haverá outros. Foi discutido, foi aprovado, houve consenso sobre os princípios e critérios que guiarão essa ampliação”, disse o ministro.

Os países do Brics chegaram a uma definição de 13 países para se juntar à associação na categoria de “Estados parceiros”. Os países convidados a fazer parte do Brics nesta categoria são: Turquia, Indonésia, Argélia, Belarus, Cuba, Bolívia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria e Uganda.

A Venezuela havia formalizado o pedido de entrada em maio deste ano, mas foi rejeitado pelo Brasil depois das eleições presidenciais que tiveram a vitória de Maduro em 28 de julho. O pleito foi contestado pela oposição, que disse ter recolhido as cópias das atas eleitorais e que, esses resultados somados dariam a vitória ao candidato da oposição Edmundo González Urrutia. Essas atas, no entanto, não foram apresentadas à Justiça.

Da Redação