Militares tomam o poder em Bangladesh após renúncia de premiê; 20 pessoas morrem em protestos
Brasil de Fato
Pelo menos 20 pessoas morreram nesta segunda-feira (5) nos protestos em Daca, capital de Bangladesh. Os atos de violência ocorreram após renúncia e fuga da primeira-ministra Sheikh Hasina, e a invasão de manifestantes em sua residência oficial, indicou uma fonte policial à AFP.
Em mensagem à nação exibida pela televisão estatal, o comandante do Exército, general Waker-Uz-Zaman, declarou que Hasina renunciou e que os militares formarão um “governo provisório”, após mais de um mês de protestos violentos que deixaram pelo menos 300 mortos nesta nação do sul da Ásia.
Durante os distúrbios, as forças de segurança apoiaram o governo de Hasina. Diante da magnitude dos protestos, o Supremo Tribunal flexibilizou o sistema de cotas, mas as manifestações prosseguiram e começaram a exigir a renúncia de Hasina.
Ao menos 94 pessoas morreram no domingo (5), incluindo 14 policiais, no dia mais violento desde o início dos protestos. Manifestantes e partidários do governo se enfrentaram em todo o país com pedaços de pau e facas. As forças de segurança abriram fogo contra os protestos.
Hasina, 76 anos, fugiu do país nesta segunda-feira (5) em um helicóptero, depois que uma revolta iniciada em julho com protestos estudantis contra as cotas que beneficiam alguns setores no acesso a empregos no funcionalismo público foram ampliados para um movimento de repúdio ao seu governo.
Pouco depois, centenas de manifestantes invadiram sua residência oficial em Daca, a capital do país. A fonte, que falou à AFP na condição de anonimato, informou que em um primeiro momento Hasina tentou sair do local em um veículo.
Ao menos 300 pessoas morreram desde o início das mobilizações, em 1º de julho, segundo uma contagem da AFP baseada em informações divulgadas pela polícia, autoridades e médicos em hospitais.
Milhares de pessoas exibiram bandeiras e algumas subiram em um tanque nesta segunda-feira, após mais de um mês de protestos violentos neste país muçulmano de 171 milhões de habitantes.
As manifestações começaram em julho, após a reintrodução de um sistema de cotas que reservava mais da metade dos empregos públicos para determinados grupos.
Os últimos 15 anos em que governou Bangladesh foram marcados pelo crescimento econômico. No ano passado, Hasina prometeu que transformaria Bangladesh em um “país desenvolvido”, mas quase 18 milhões de jovens estão desempregados, segundo os números do governo.
Seu último mandato, que começou em janeiro, foi marcado pelo boicote da oposição às eleições, denunciadas como um pleito que não foi livre nem justo.
Em janeiro de 2007, os militares declararam estado de exceção após uma crise política generalizada no país e instauraram um governo provisório, que teve duração de dois anos. Hasina chegou ao poder logo depois, em 2009.
Grupos de defesa dos direitos humanos acusaram o governo de Hasina de utilizar as instituições para se consolidar no poder e reprimir a dissidência, inclusive medidas como execuções extrajudiciais de ativistas da oposição.