Putin confirma sucesso diplomático no Brics e desafia isolamento do Ocidente

Brasil de Fato

Com o fim da 16ª Cúpula do Brics, realizada em Kazan, na Rússia, entre os dias 22 e 24 de outubro, ficou comprovado o potencial dos países do grupo de mostrar força no cenário internacional como uma plataforma para que os países do Sul Global se reúnam, cheguem a acordos e projetem suas políticas.

Mas a demonstração de relevância da Cúpula do Brics neste ano teve um sabor especial para a Rússia, que preside o grupo em 2024 e, portanto, além de sediar o evento, recebendo líderes, jornalistas e organizações do mundo inteiro, é responsável por encaminhar as diretrizes e negociações do grupo para alcançar resultados sólidos ao final da cúpula.

Foi a maior cúpula em toda a história das edições, considerando que foi a primeira que contou com a versão ampliada do grupo Brics+. Ou seja, foi a primeira edição que além dos membros originais – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, participam como membros de pleno formato os países que se somaram ao grupo 2023: Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã. A Arábia Saudita, no entanto, ainda não confirmou oficialmente a entrada no grupo, deixando o seu ingresso em aberta.

Neste ano, segundo as autoridades russas, mais de 30 países chegaram a manifestar desejo de cooperar com o Brics de alguma forma. No total, delegações de 36 países estiveram presentes na cúpula e mais de 2 mil jornalistas credenciados de quase 60 países.

E tudo isso acontece em um momento ainda bastante nebuloso na guerra da Ucrânia, logo, em um momento de permanente busca do Ocidente de isolar a Rússia no mundo. Por todos esses motivos, era fundamental para a Rússia que, sob a sua presidência, a Cúpula do Brics demonstrasse resultados e fosse encarada como um sucesso.

Neste contexto, em entrevista ao Brasil de Fato, o analista geopolítico Marco Fernandes aponta que “não há dúvida de que a cúpula foi um sucesso diplomático da Rússia”. Segundo ele, a cúpula em Kazan deixou “evidente de que o esforço dos EUA e da União Europeia de isolar a Rússia não está dando muito certo”.

Durante os dias da cúpula, o porta-voz da União Europeia (UE), Peter Stano, fez um apelo para que os líderes dos países participantes na Cúpula do Brics na Rússia dissessem a Vladimir Putin que ele deve “parar imediatamente a guerra” contra a Ucrânia. Ele destacou que a posição de EU segue sendo de “isolar a Rússia internacionalmente, tanto quanto possível”.

O analista Marco Fernandes lembra que um dos países presentes na cúpula e que durante o ano vinha pleiteando um desejo de entrar no Brics foi a Turquia, que é um país membro da Otan e há décadas busca ser aceita na UE. Segundo Fernandes, a presença da Turquia é “um detalhe qualitativo” a mais para o sucesso da presidência russa.

E a Turquia foi um dos países que foi aceito para compor a lista de 13 novos Estados parceiros dos Brics. Como apurou a reportagem do Brasil de Fato, com fontes diplomáticas brasileiras em Kazan, a lista final foi composta por: Turquia, Indonésia, Argélia, Belarus, Cuba, Bolívia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria e Uganda.

A criação da categoria de ‘países parceiros’ foi outra novidade desta cúpula, que não colocou na agenda a adesão de novos membros em pleno formato, como aconteceu em 2023, mas definiu este novo status para se chegar a um acordo para expandir o grupo. A nova categoria implica que os países parceiros participarão das reuniões multilaterais no grupo Brics, mas, em caso de divergências, os países originais do formato Brics+ terão poder de decisão.

Para Marco Fernandes, este acerto também representa um êxito diplomático para a Rússia enquanto organizadora e presidente do Brics neste ano.

“Isso com certeza traz um vitória diplomática, pro Brics e pra Rússia, que está sediando a cúpula, porque, afinal de contas, foi a Rússia que fez as articulações durante o ano para que essa nova categoria fosse criada”, afirmou Fernandes.

“Então acho que isso tudo mostra que a cúpula foi um sucesso do ponto de vista diplomático e que a Rússia vai continuar aumentando, digamos, o nível das suas relações diplomáticas com os países do Sul Global”, completa.

Outra participação que chamou a atenção no processo de validação do protagonismo da Rússia no cenário internacional, foi a do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, o que gerou críticas por parte da Ucrânia.

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia criticou o fato de que Guterres aceitou o convite do presidente russo, Vladimir Putin, para participar da cúpula do Brics, mas absteve-se de participar “cúpula de paz” sobre a guerra na Ucrânia.

A Cúpula do Brics em Kazan sem dúvida foi o maior evento internacional que a Rússia sediou nos últimos tempos, sobretudo após o início da guerra da Ucrânia em 2022. Se um dos objetivos políticos centrais da presidência do país no Brics este ano era comprovar o protagonismo do país no sistema internacional, em oposição ao isolamento que o Ocidente impôs a Moscou, é incontestável que Vladimir Putin conseguiu o que queria.

 

Neste sentido, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, destacou a defesa de que o Brics deve ser central na formação uma nova “ordem mundial multipolar”, posição também reforçada pelo presidente Lula da Silva.

“E é esse curso, especialmente exigido nas circunstâncias atuais, quando o mundo passa por mudanças verdadeiramente cardinais. O processo de formação de uma ordem mundial multipolar está em andamento, um processo dinâmico e irreversível na minha opinião. Esta é a essência do caminho do Brics na arena global, em linha com as aspirações da maior parte da sociedade mundial, a chamada maioria global”, disse.

Da Redação