De um lado, imóveis de equipamentos públicos abandonados; do outro, as necessidades do povo
Brasil de Fato
O ano eleitoral traz novas promessas por parte de antigos gestores. Nos cerca de dois meses de campanha, é momento também de uma certa sensação estranha. Isso porque, ao mesmo tempo que novas promessas e projetos são apresentados, algumas situações espantam pelo tempo com que não são resolvidas e se prolongam sem definição.
Um bom exemplo disso são os imóveis que já abrigaram importantes equipamentos públicos e, há anos, estão abandonados na capital paranaense.
Um dos casos mais graves e gritantes é o abandono do imóvel do antigo Laboratório Público Municipal, localizado no coração do bairro Parolin. A sede foi transferida para um novo laboratório no bairro Novo Mundo em 2015, com atendimento normal às demandas da saúde municipal.
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Porém, a enorme estrutura do prédio abandonado está deste jeito há quase dez anos. Hoje, o local é usado como abrigo precário por pessoas em situação de rua e em situação de dependência de drogas. No Parolin, uma região, onde o Estado atua constantemente com seu braço armado da Polícia Militar, o abandono dessa estrutura espelha o próprio abandono da região.
A opinião da líder comunitária local, Andréia de Lima, é de que não há canais de diálogo entre prefeitura e comunidade. E a comunidade não é ouvida. “Eles não querem fazer nada que contribua na melhoria da vida das pessoas, o espaço tinha sido negociado junto com o Movimento Nacional de População em Situação de Rua (MNPR), mas não se encaminhou – a prefeitura não quer melhorar a qualidade de vida das pessoas e mostrar que se preocupa”, denuncia.
O imóvel onde funcionava o laboratório fica na rua Antonio Parolin Júnior, número 1000, e já teve sinalização da prefeitura de Curitiba, também em 2015, de que seria transformado em um novo Centro de Atenção Psicossocial (Caps) – unidade que oferece atendimento diário a pessoas com transtornos mentais, como acompanhamento clínico e reinserção social.
Pedido do vereador Jorge Bernardi (PDT) à época, via ofício, teve como resposta da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que no local seria instalada uma unidade de acolhimento transitório, com previsão de funcionamento dos serviços para o segundo semestre de 2015. O que nunca aconteceu.
Procurada pela reportagem sobre o futuro do imóvel, a assessoria de imprensa da prefeitura de Curitiba responde que “A Secretaria Municipal da Educação informa que planeja utilizar o imóvel do antigo Laboratório Municipal para abrigar um CMEI, ainda sem data para implantação, pois são necessárias reformas”.
Antigo centro de Educação
Numa Curitiba na qual, no primeiro semestre de 2024, houve no mínimo quatro despejos de áreas de ocupação, sem uma estrutura de abrigo para as famílias no frio, causa certo espanto ver o desperdício de imóveis que poderiam estar sendo usados.
Outro imóvel, localizado mais próximo do centro de Curitiba, cuja situação atual preocupa, é a antiga Unidade de Educação Integral Padre João Cruciani, que fica na Rua Divina Providência, ao lado da Unidade de Saúde Santa Quitéria, pertencente à regional Portão.
Como os cerca de 300 alunos foram transferidos integralmente para a Escola Municipal João Cruciani, fica, no entanto, a dúvida sobre o destino do imóvel, que apresenta boa estrutura de recreação, como a reportagem do Brasil de Fato Paraná pôde constatar.
De acordo com Ana Paula, professora presente no momento em que a reportagem visitou o local, há apontamentos de que o espaço possa vir a ser um centro de formação. Já a assessoria de imprensa da prefeitura colocou que “o espaço vinha sendo reorganizado para novas práticas pedagógicas, já em andamento na unidade”.
Por mais espaços de lazer a cultura para a população
Equipamentos voltados para a juventude e para a capacitação também são necessidades sempre urgentes na periferia de Curitiba.
No bairro Sítio Cercado, o movimento social de bairros “O Povo pelo Povo” denuncia o abandono do imóvel do antigo Liceu do Ofício, localizado na rua Doutor João Fleury da Rocha. A prefeitura aponta que a atividade do liceu segue na região. No entanto, a juventude reclama um destino para a casa abandonada.
Para uma das lideranças da região, o estudante de Fonoaudiologia Jean Henrique Chávez, tratava-se de um espaço importante por “capacitar as pessoas minimamente. Agora, há mais de dez anos está jogado às traças, reclamamos no Fala Curitiba e a regional do Bairro Novo afirma não poder fazer nada, um terreno sem direito nenhum de mexer”, afirma Chávez, agregando que o “meu bairro é carente de parques, de qualquer coisa que se possa imaginar de lazer”.
Alternativas?
Em 2024, a Secretaria Municipal de Administração, Gestão de Pessoal e Tecnologia da Informação (SMAP), órgão responsável por orientar e promover a gestão do patrimônio imobiliário e da permissão de uso dos órgãos da administração direta, lançou no primeiro recentemente o edital número 1, no qual cadastra entidades sociais para possível acesso a imóveis públicos para sediar seus empreendimentos. Uma das exigências do edital é a comprovação de dois anos de atividade da organização.
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