Unicef lança campanha para mitigar crise alimentar que afeta cerca de um milhão de crianças argentinas

Brasil de Fato

Na Argentina, todos os dias, um milhão de crianças vão dormir sem ter jantado. O número aumenta para 1,5 milhão se levarmos em conta o número de crianças no país que não comem as quatro refeições diárias. 

Esses dados vêm da Oitava Pesquisa Rápida conduzida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Eles embasam a campanha A fome não tem final feliz, que visa arrecadar fundos para o trabalho de ajuda humanitária da agência no país. 

O levantamento indica que 4,5 milhões de adultos argentinos deixam de comer durante o dia para que suas crianças possam se alimentar. Por trás de cada um desses números, há milhares de histórias de pais que são vítimas de políticas econômicas. Embora a crise que assola o país já tenha mais de uma década, nos últimos meses a situação tem se deteriorado: somente neste ano, 15% dos chefes de família perderam seus empregos. 

O estudo do UNICEF diz que 48% das famílias com crianças não têm renda suficiente para cobrir as despesas mensais. A situação tem provocado um aumento no endividamento das famílias, tanto por meio de mecanismos formais como informais. Uma de cada quatro famílias diz que está endividada para conseguir pagar as contas. 

A falta de recursos afeta diretamente as condições de vida das crianças, pois as famílias são forçadas a restringir o consumo básico, como saúde, transporte e vestuário. 

Esta situação se reflete na alimentação. O estudo revela que 52% das famílias tiveram que parar de comprar algum alimento devido à falta de dinheiro, o que afeta cerca de 10 milhões de crianças. Trata-se do número mais alto de toda a série, tendo aumentado 11% em relação a 2023.

Dessas famílias, 90% deixaram de comprar leite, carne e outros produtos lácteos, o que significa redução no consumo de alimentos essenciais para a nutrição das crianças. Os problemas de insegurança alimentar na infância provocam consequências graves, como o déficit de atenção, que dificulta o aprendizado e pode até levar a problemas cognitivos.  

Aumento da pobreza

A piora das condições de vida das crianças acontece num contexto de grave crise econômica. Na semana passada, o Observatório da Dívida Social Argentina, pertencente à Universidade Católica (UCA), informou que 55% da população está em situação de pobreza, enquanto 1 em cada 5 argentinos não tem o suficiente para comer. 

Em comparação com o terceiro trimestre de 2023, isso significa que a pobreza aumentou 11% este ano, enquanto a obreza extrema duplicou. 

A situação está ocorrendo no contexto de um severo corte orçamentário que o governo de direita de Javier Milei vem realizando. “O maior ajuste da história”, repete com frequência o presidente argentino. 

Ao mesmo tempo, os movimentos sociais e sindicatos acusam o governo de “não entregar alimentos aos refeitórios e cozinhas populares”, locais onde milhões de pessoas vão todos os dias para receber um prato de comida. 

 

 

Da Redação