Carlos Nobre propõe aprimorar sistemas para identificar incêndios criminosos em vegetação
Brasil de Fato
O governo federal tem 15 dias para intensificar a atuação preventiva e de combate aos incêndios no Pantanal e na Amazônia. O prazo foi dado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino nesta terça-feira (27).
Conforme a decisão de Dino, os Ministérios da Defesa, da Justiça e do Meio Ambiente precisam mobilizar um maior efetivo de agentes das Polícias Federal e Rodoviária Federal, da Força Nacional e da Fiscalização Ambiental para as ações nos biomas.
O Pantanal e a Amazônia vêm sofrendo com recorde de queimadas no ano. Para piorar, o estado de São Paulo também sentiu os efeitos do fogo e da fumaça no último fim de semana, com o governo decretando situação de emergência em mais de 40 municípios.
Para o meteorologista e climatologista Carlos Nobre, as causas dos incêndios vão além das naturais. Coordenador científico do Instituto de Estudos Climáticos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ele concorda com a suspeita de que muitos incêndios sejam criminosos.
“Nesses dias, aparentemente, quase todos os incêndios foram criminosos. Nunca ocorreu tanta queimada. Lógico, nós podemos ver que houve recorde de seca em 44 anos, ondas de calor. E também: agosto é o mês que tem mais ventos no Sudeste, no estado de São Paulo também. Esses fatores, logicamente, fazem a vegetação – seja canaviais, pastagens, florestas – ficar mais seca e mais inflamável”, pontua.
“Mas não houve nenhuma descarga elétrica nesse período todo do recorde de queimadas. Então não houve nenhuma prova de que houve queimadas de origem natural. É muito difícil não concluir – o que a polícia começa a investigar – que, obviamente, todo o início de incêndio é humano”, argumenta o especialista.
Nesta terça (27), um relatório do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) revelou que, entre quinta (22) e sexta-feira (23 ), quando municípios paulistas declararam emergência, foram observados 2,6 mil focos de calor. Mais de 81% dos incêndios aconteceram em áreas de uso agropecuário e começaram quase que simultaneamente, num período de 90 minutos.
Ao todo, a Polícia Federal já abriu 32 inquéritos para investigar as suspeitas de incêndios criminosos no Pantanal, na Amazônia e em São Paulo. Pelo menos 5 homens foram presos no estado.
“São investigações que precisam ser feitas com muito rigor, com muita rapidez, com muito cuidado. As polícias ainda não conseguiram identificar totalmente”, diz Nobre, que cita a possibilidade dos envolvidos serem ligados ao crime organizado.
As suspeitas também foram levantadas no último domingo (25) pelo presidente Lula e pela ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva. A ministra declarou que os esforços federais estão mobilizados para combater os incêndios e que “ações criminosas serão punidas com todo o rigor que a lei oferece”.
O coordenador científico do Instituto de Estudos Climáticos da Ufes defende que a prevenção aos incêndios passa por aprimorar os sistemas de monitoramento por satélite, que ainda não conseguem identificar a ação humana que causa o fogo nas vegetações.
“O governo federal aumentou o número de brigadistas que foram pro Pantanal, para o Cerrado, para a Amazônia, mas ainda esse número é absolutamente modesto para combater essa emergência climática e emergência de seca”, pondera.
“O que me parece que vai ter que ser feito aqui no Brasil, o que praticamente não existe, é começar a desenvolver outros sistemas. Porque os sistemas de monitoramento dos satélites captam muito bem o fogo, captam o desmatamento, captam a degradação, mas o criminoso que vai lá colocar fogo coloca o fogo em minutos. O sistema satelitário não capta quem está colocando fogo.”
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quarta-feira (28) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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