‘Quanto vale o que não tem preço?’: filme mostra luta dos atingidos de Antônio Pereira (MG)

Brasil de Fato

O documentário Quanto vale o que não tem preço?, dirigido por Leo Souza, em parceria com o Instituto Guaicuy, traz depoimentos de atingidos pela barragem Doutor, da Vale, em Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto (MG). 

Disponível gratuitamente no YouTube, o filme mostra que os impactos causados pelas barragens não acontecem apenas quando elas se rompem, como foram os casos de Brumadinho e Mariana. Com 30 minutos de duração, a produção também destaca a luta da população atingida por justiça e reparação. 

Ao longo do documentário, são entrevistados moradores das Zonas de Auto Salvamento (ZAS) da região – um perímetro no qual, em caso de rompimento da barragem, não existe a possibilidade da chegada de resgate. Ou seja, em situações emergenciais, as famílias precisariam se manter seguras com recursos próprios. 

O filme relata que moradores de Antônio Pereira tiveram que deixar suas casas às pressas, no dia 1º de abril de 2020, em uma remoção forçada. Inicialmente, eles acreditavam que o processo duraria cerca de um mês, mas, quatro anos depois, as famílias  ainda se dividem entre hotéis e casas alugadas pela mineradora. Por isso, elas são consideradas vítimas da chamada “lama invisível”, que, embora não esteja presente fisicamente, causa danos financeiros, sociais e emocionais. 

Histórias

Os danos também se estendem à coletividade, que perdeu atividades de lazer, a possibilidade de circular livremente pelas redondezas e até mesmo os negócios, que foram afetados pela saída dos moradores. 

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Ana Clara Cota, uma das atingidas que fala ao documentário, vive há quatro anos em um hotel com os filhos. Ela foi retirada da sua casa às pressas, apenas com uma mala de mão, e afirma que não foi ressarcida pela Vale. “Não tem dinheiro que pague”, diz a atingida.

Ana conta que, além da casa, perdeu histórias, sonhos e toda uma construção de vida. Ela relata que os filhos também sofrem com os impactos todos os dias.

Outra história contada no documentário é a de Alessandra Lopes, que ainda mora em Antônio Pereira. Ela era dona de uma padaria, que era a realização de seu sonho. Com a saída dos moradores, o negócio tornou-se inviável e fonte de um alto endividamento. 

Até hoje, a Vale não ressarciu a família. Além da falta de vizinhos e amigos de uma vida, ela diz conviver com poeira,  barulho e medo constante de um rompimento da barragem Doutor, que segue com grau de risco elevado. 

Sobre o Instituto Guaicuy

O Instituto Guaicuy é a assessoria técnica independente (ATI) que auxilia os atingidos pela descaracterização da barragem Doutor. No documentário, representantes do instituto afirmam saber que o processo é lento e demorado e que o direito constitucional à propriedade é usurpado pela Vale. Não há falas de representantes da mineradora no filme. 

Da Redação