Exposição ‘Lambe-Lambe – Histórias Sapatão’ ocupa as ruas do Rio de Janeiro
Brasil de Fato
Em comemoração ao Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, a exposição Lambe-Lambe – Histórias Sapatão ocupa as ruas do Rio de Janeiro desde a quinta-feira (29). A data marca o 1º Seminário Nacional de Lésbicas, realizado em 1996 em São Paulo, um evento crucial na luta contra a lesbofobia. A abertura da mostra ocorreu em frente à Câmara Municipal do Rio, na Cinelândia, às 17h, dentro da programação da festa Ocupa Sapatão.
A intervenção artística ao ar livre apresentou 40 lambe-lambes de 2 metros por 1 metro, retratando oito casais lésbicos fotografados por Camilla Lapa, idealizadora e diretora do projeto. As obras, que apresentaram uma diversidade de cor, idade e identidade, incluindo mulheres cis e trans, serão expostas em diferentes pontos da cidade, especialmente em áreas onde a cultura LGBTQIAPN+ é menos visível. “O objetivo é furar a bolha e chamar a atenção de um público que normalmente não tem contato com a cultura queer”, afirma Camilla.
De cada ensaio com os casais, uma das seis fotos capturadas foi escolhida para receber uma intervenção artística da grafiteira Renaya Dorea, que adicionou desenhos digitais antes das peças serem expostas. Na abertura da exposição, Renaya também realizarou intervenções ao vivo, pintando alguns lambe-lambes.
Cada lambe-lambe espalhado pelo Rio de Janeiro tem um QR Code que direciona ao site www.lambelambesapatao.com, onde é possível acessar uma galeria com as demais fotos do ensaio e descobrir a história por trás de cada imagem. O conteúdo resulta de um trabalho de campo realizado pelas diretoras criativas Julia Bernat e Karol Guimarães Rosa, que, durante três meses, entrevistaram casais lésbicos de várias regiões da cidade.
Entre as histórias retratadas, destacam-se a de Renilda Pires e Rosângela Castro, um casal 60+ que enfrentou grandes desafios em uma época em que revelar a sexualidade era quase impensável. Renilda precisou deixar o Brasil para encontrar liberdade, enquanto Rosângela está na linha de frente da militância desde os anos 70, tendo participado de eventos históricos como o levante do Ferro’s Bar, ocorrido em 19 de agosto de 1983, na cidade de São Paulo.
Na ocasião, o dono do bar impediu a distribuição de boletins do Grupo Ação Lésbica-Feminista, gerando protestos e um boicote liderado pela ativista Rosely Roth. As manifestações cessaram quando o proprietário permitiu a circulação dos folhetins, e a situação levou à criação do Dia do Orgulho Lésbico, aprovado em 2008. “Entrevistar a Rosângela nos ensinou muito sobre a história do movimento lésbico e a importância de militar pelo orgulho de sermos o que somos”, destaca Julia.
Outra história de destaque é a do casal Jaque Vasconcellos e Joana Miranda, que estão juntas há 13 anos. Elas protagonizaram o primeiro casamento budista lésbico do Brasil. São as únicas mães do projeto e têm um filho de 2 anos, Otto, concebido por reprodução assistida, após uma saga de 5 anos para consegui-lo.
“As quatro artistas criadoras do projeto são lésbicas ou bissexuais e, por isso, buscam reafirmar a positividade do termo ‘sapatão’, que representa o orgulho lésbico, ressignificando uma palavra que por muito tempo foi usada como insulto lesbofóbico. Da mesma forma, queremos valorizar a imagem do amor entre duas mulheres em espaços que tradicionalmente não lhes dão visibilidade”, finaliza Karol.
Lambe-Lambe – Histórias Sapatão é uma realização da Crysolitha Produções Artísticas, em coprodução com a Araçá Azul Produções, e foi contemplada pelo edital Pró-Carioca, programa de fomento à cultura carioca da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura.
Serviço:
Lambe-Lambe – Histórias Sapatão
Abertura: 29 de agosto
Onde: Em Frente à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Cinelândia.
Endereço: Praça Floriano – Centro, Rio de Janeiro – RJ
Hora: A partir das 17h
Faixa etária: livre
Instagram: @lambelambesapatao
Site: lambelambesapatao.com