Nordeste amplia participação feminina na política, mas representação segue baixa
Brasil de Fato
A Justiça Eleitoral ainda tem até 16 de setembro para analisar todos os pedidos de registro de candidaturas e publicar as decisões de cada caso, mas os números divulgados até agora pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram um aumento no número de registro de candidaturas de mulheres na região Nordeste.
Dos 4.638 candidatos às prefeituras do país, 18,5% são mulheres, o maior percentual de candidatas em comparação com as demais regiões brasileiras. Em números absolutos, o Nordeste também possui o maior número de candidaturas femininas. De modo geral, os dados revelam que são mulheres brancas, casadas, e têm 45 e 49 anos de idade.
A participação das mulheres na política tem sido um tema central nas discussões sobre igualdade de gênero e democracia ao longo das últimas décadas. Mas embora tenha havido avanços significativos em várias partes do mundo, ainda há um caminho a percorrer para alcançar a paridade de gênero nas posições de poder.
Fortaleza é precursora no tema. Em 1985, Maria Luiza Fontenele (PT) foi a primeira prefeita da cidade, que ainda teve Luizianne Lins, outra mulher filiada ao PT, comandando o Paço Municipal (2005/2012). O estado do Ceará não fica atrás, e lá em 1958, o povo de Quixeramobim elegeu Aldamira Guedes para ser prefeita do município, a primeira do Ceará.
Para além dos fatos históricos, os dados estatísticos também costuram uma realidade feminina na cidade. Fortaleza, quarta maior capital do país, é a cidade em que a população feminina é maior em comparação com a masculina, com 86,6 homens para cada 100 mulheres. Nas eleições municipais deste ano, das nove chapas que disputam a prefeitura de Fortaleza, 7 possuem mulheres, mas nenhuma delas encabeça a disputa majoritária.
Grávida da sua segunda filha, a deputada estadual Gabriella Aguiar (PSD) topou o desafio de disputar a prefeitura de Fortaleza ao lado do candidato Evandro Leitão, pela chapa do Partido dos Trabalhadores. A parlamentar atua ao lado de outras 8 mulheres na Assembleia Legislativa do Ceará, que conta com 46 parlamentares.
“Eu quero ser essa figura feminina que inspira mais mulheres a entrarem na política. Estou nesta campanha de vice-prefeita grávida de uma menina e isso me estimula ainda mais a lutar por uma sociedade que dê mais oportunidades para as mulheres em todas as áreas, e estamos provando no dia a dia que somos boas demais para sermos ignoradas”, afirmou a candidata ao BdF.
Também candidata pelo campo progressista, a sindicalista Malu Costa compõe a chapa do PSTU ao lado do candidato José Batista. Na luta do movimento desde a década de 90, Malu já viveu diversos embates com patrões, policiais e guardas municipais e defende a ampla participação da mulher em todos os espaços do sistema e a defesa de todos os seus direitos.
“Estamos todos os dias aprendendo e lutando contra essa ideologia que permeia a realidade, mas que precisa ser extirpada, pois é um mal que nada acrescenta para a humanidade. Na minha vida, desde cedo aprendi a lutar contra opressão machista. Sou mãe de três filhas e tento ser um exemplo para elas dessa luta”, destacou a candidata.
Os dados sobre violência política no Brasil entre janeiro e março de 2023 mostram um aumento preocupante. Segundo um estudo do Observatório de Violência Política e Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, foram registrados 114 casos nesse período. Esses episódios incluem ameaças, agressões físicas e até homicídios, sendo que mais da metade dos casos foram ameaças (63 casos), seguidas por agressões (17 casos) e homicídios (13 casos). Esses números superam os registrados nos mesmos meses de anos anteriores, mesmo em períodos eleitorais, indicando que o clima político de violência persiste mesmo após a posse de um novo governo.
Apesar dos dados, há quem refute a ideia. A candidata Silvana Bezerra, vice na chapa de Eduardo Girão (Novo) acredita que a mulher ainda não conseguiu enxergar a responsabilidade política que ela tem. “Acredito que o espaço da política para a mulher não seja um espaço tão violento. A partir do momento que você vai quebrando esse paradigma de que a mulher na política é mais difícil, você vai se fortalecer. O que precisa dela é a capacidade dela enxergar que ela também pode ocupar esse espaço”, defendeu a candidata.
O debate sobre a participação das mulheres na política alça voos que perpassam os campos da direita e da esquerda em todo o país. A candidata Edilene Pessoa, vice na chapa de Capitão Wagner (União), disputa uma campanha majoritária pela primeira vez. Conselheira Tutelar e nutricionista, ela acredita que seu nome foi escolhido pelo trabalho desempenhado como profissional e não por uma questão de gênero. “A nossa presença nesse campo político amplia a diversidade e a pluralidade de pensamentos com esse olhar feminino que é só nosso. Mas a minha escolha para vice foi muito mais pela minha experiência com saúde, como nutricionista, com crianças e adolescentes, por ser do Conselho Tutelar de Fortaleza, do que algo somente vinculado ao gênero”, disse.
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