‘Indígenas são assassinados, mandantes são impunes’, denunciam organizações em nota de solidariedade aos Guarani Kaiowá
Brasil de Fato
Após o assassinato de um jovem indígena, na manhã desta quarta-feira (18), no município de Antônio João (MS), coletivos e organizações publicaram uma nota em solidariedade aos Guarani Kaiowá que manifesta repúdio à violência contra os indígenas. Neri Guarani Kaiowa, de 22 anos, foi assassinado com tiro na cabeça em uma área de retomada, durante uma ação da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul.
As agressões começaram na noite de quinta-feira (12), quando os indígenas retomaram a fazenda Barra, sobreposta à Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu. Eles foram atacados pela PM, que fazia a proteção da propriedade. Três pessoas foram baleadas e uma delas foi hospitalizada.
Em Douradina, a cerca de 180 quilômetros de Antônio João, os Guarani Kaiowá também convivem com a violência, na retomada do território ancestral Panambi Lagoa-Rica.
“Nós, signatários desta nota, exigimos que as autoridades do Estado brasileiro, governo e Judiciário, priorizem a proteção das comunidades indígenas para evitar mais derramamento de sangue nesta terra”, ressalta a nota. O documento questiona a ação da Justiça, que “não pode ser omissa numa batalha desigual em que apenas indígenas são assassinados, enquanto executores e mandantes são impunes”.
Segundo o texto, a recorrente onda de violência e violações de direitos contra povos indígenas Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul é inaceitável.
“Desde julho deste ano, já são 10 pessoas feridas por fazendeiros que reivindicam a área. As comunidades são atacadas constantemente, com tiros, atropelamentos, envenenamento dos rios, além de queimarem as casas de reza, representação cultural e espiritual dos povos”, ressalta a nota.
A fazenda Barra está sobreposta ao território indígena. A demarcação da TI em questão ocorreu em março de 2005, porém uma decisão liminar do então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, suspendeu a demarcação logo em seguida. A fazenda está sob posse de Roseli Ruiz, cuja filha, Luana Ruiz, é advogada e assessora especial da Casa Civil do Governo Estadual do Mato Grosso do Sul.
Ao todo, 96 coletivos e organizações assinam o documento, entre elas a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e diversos movimentos de luta pela terra e pelos direitos humanos.