Em sua terceira eleição, caçula UP sonha com seu primeiro mandato em Pernambuco

Brasil de Fato

Neste domingo (6), quando milhões de pernambucanos forem às urnas, os militantes do partido Unidade Popular (UP) estarão na torcida para conquistarem ao menos uma das 56,8 mil cadeiras de vereadores no Brasil. O partido, que se descreve como comunista e revolucionário, é o caçula entre os fundados “do zero” no Brasil, disputando em 2024 apenas a sua 3ª eleição.

Em Pernambuco, a UP tem quatro candidaturas majoritárias, nas cidades do Recife, Caruaru, Petrolina e Carpina; além de oito candidaturas às câmaras de vereadores, disputando cadeiras nos municípios de Recife, Jaboatão, Caruaru e Petrolina, com dois nomes em cada cidade.

Há quatro anos, quando o partido se lançou às urnas pela primeira vez, disputou as prefeituras do Recife, Jaboatão, Caruaru e Carpina, além de indicar o vice na chapa do PSOL em Petrolina. O candidato a prefeito da UP no Recife, Thiago Santos, recebeu 1.232 votos (0,15%), ficando em 8º lugar, à frente da candidata do PSTU.

Algo que chama atenção é a média de idade bastante jovem das candidaturas do partido no estado, entre vereadores e prefeitos. As quatro candidaturas da UP à prefeitura são femininas, com idades entre 23 e 43 anos. Muitos dos candidatos a vereador são lideranças estudantis.

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O presidente estadual da UP, o advogado Thiago Santos, que disputou a Prefeitura do Recife em 2020, afirma que é algo que aconteceu “naturalmente”. “Esse é o perfil da nossa militância, um reflexo da realidade”, diz ele, lembrando ainda que um levantamento do site Poder 360, com candidaturas de todo o Brasil, apontou a UP com média de 36,6 anos, a mais jovem do país. “O fato de termos mulheres liderando todas as candidaturas à prefeitura também é algo importante para nós”, completa ele.

Santos afirma que o partido “só vê vantagem” nesse perfil. “Ser jovem não é demérito. Achamos muito positivo esse perfil e temos orgulho disso. Vamos trabalhar para conservamos essa características”, diz ele. “O que existe é um problema externo, que é o machismo estrutural e a violência política contra as mulheres, algo que nos coloca na linha de fogo”, avalia.


Thiago Santos é o presidente estadual da Unidade Popular (UP) / Arquivo pessoal de Thiago Santos

A UP, segundo o presidente estadual, quer disputar os anseios populares por “renovação política”. “Temos trabalhado muito bem essa temática. Do outro lado tem o Partido Novo, que faz a política velha, do capitalismo apoiado no coronelismo e nas oligarquias”, criticou. E sobrou também para João Campos (PSB), prefeito do Recife. “Ele é jovem e dialoga com a juventude, mas a política que ele faz tem quantos anos? Ele representa a política das oligarquias. É jovem na aparência, mas velho nas ideias”, atacou.

Recife

No Recife, a enfermeira Ludmila Outtes, jovem sindicalista e presidente do Sindicato dos Enfermeiros de Pernambuco (SEEPE), foi a escolhida da UP para disputar a prefeitura. Seu vice é o sindicalista Raimundo Malheiros, trabalhador aposentado dos Correios. Ludmila participou da disputa para deputada federal em 2022, também pela UP, quando recebeu 3,1 mil votos. Já Malheiros concorreu a vereador do Recife em 2020, recebendo 63 votos.

A vereança é disputada por Maria Ofélia da Silva, a “Ofélia do MLB”, que trabalha como faxineira e é militante da luta por moradia no Movimento de Luta dos Bairros (MLB). Em 2020, na primeira disputa eleitoral da UP, Ofélia recebeu 121 votos, sendo a mais votada entre os 8 nomes da chapa na capital pernambucana. Na ocasião, a UP obteve 727 votos, ficando à frente de PSTU, PCB e Rede, mas ainda muito distante de conquistar uma vaga na Câmara do Recife.

O outro nome que concorre à Câmara do Recife é o líder estudantil Cassiano Bezerra, o “Cassiano da UNE”, estudante da UFRPE, militante da UJR e diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE).

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Apesar dos elogios às candidaturas em todo o estado, o dirigente partidário afirma a importância da disputa no Recife. “A capital acaba repercutindo em todo o estado”, diz Thiago. Ele considera que a candidatura de Outtes também tem uma “importância pedagógica”. “Ela representa o fortalecimento de uma luta recente contra a política genocida do governo passado [Bolsonaro], que é a luta dos enfermeiros. Então Ludmila emergiu como uma liderança natural”, completa.

Questionado sobre as condições desiguais de participação na disputa eleitoral, Thiago Santos destacou as condições financeiras para fazer a disputa. “Nosso fundo eleitoral é a menor cota que tem no Brasil. Então é difícil. Mas estamos muito orgulhosos da nossa militância”, diz ele.

Thiago também se queixou da imprensa. “Só não fizemos mais devido ao boicote da imprensa. Ludmila não foi convidada para os debates”, reclamou. “No único debate em que fomos convidados, na UFPE, Ludmila ‘almoçou e jantou’ os outros candidatos. Em Caruaru fizemos o mesmo”, avaliou Santos.

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Ele diz que isso não faz o partido se resignar na disputa. “Não somos ingênuos – nós queremos ter bom desempenho. Mas o número de votos não pode ser a nossa principal métrica para avaliarmos o sucesso das nossas campanhas”, diz ele. “Queremos mostrar o trabalho cotidiano do partido, que se baseia em organizar e fortalecer as lutas – não só se mobilizar para eleições a cada dois anos”, explica ele.

Nesta eleição, a UP tem direito a recursos públicos oriundos do Fundo Eleitoral, destinado a gastos apenas na eleição. Os cofres da União enviaram R$3,4 milhões para o partido bancar suas candidaturas em todo o Brasil. A candidatura de Ludmila Outtes, no Recife, recebeu pouco mais de R$38 mil, repassados pela direção nacional e estadual da Unidade Popular. A campanha recebeu menos de R$500 em três doações individuais – sendo uma doação pessoal dela, de $199, a de maior valor.

Para ter acesso a recursos públicos do Fundo Partidário e para ter direito a propaganda eleitoral na TV e rádio, a sigla precisa cumprir três critérios: ter obtido, nas eleições gerais mais recentes (2022), ao menos 2% dos votos válidos em todo o Brasil; ter obtido, também em 2022, no mínimo 1% em ao menos 9 estados brasileiros; e ter, no momento, ao menos 11 deputados federais, distribuídos em no mínimo 9 estados da federação.

A UP ainda não tem sequer um vereador em todo o Brasil. O candidato do partido à Presidência da República, Léo Péricles, teve 53,5 mil votos em 2022 (0,05% dos votos válidos), ficando em 8º lugar na disputa , à frente das candidaturas do PCB, do PSTU e do Democracia Cristã.

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Jaboatão e Carpina

Em Jaboatão, onde o partido não tem candidatura majoritária, a dupla de candidatos a vereador é formada por Maria Josilene Rufino, a “Josilene do MLB”, e pelo estudante João Pedro Souza. A UP optou por não compor quaisquer coligações na disputa deste ano.

O dirigente do partido foi questionado se os dois candidatos estão apoiando alguém para a prefeitura ou se apenas votarão em alguém – quem?  “Eles estão fazendo uma campanha antifascista, denunciando as candidaturas vinculadas ao governo de Bolsonaro. Mas não estamos pedindo voto para nenhum deles, porque não nos identificamos com seus discursos”, informa Thiago Santos. “Também não estamos cobrando que nossos candidatos votem num dos candidatos a prefeito. O voto é individual”, resumiu.

Já em Carpina, a UP não tem candidatos a vereador, apenas uma para a prefeitura, formada por Sandra Ramos, comerciante, estudante de radiologia e dirigente partidária, tendo como vice Paulo Fernando Bezerra, trabalhador operário da indústria de calçados e dirigente do sindicato local da categoria.

Caruaru

Em Caruaru, a candidata da UP à prefeitura é Maria Santos, jovem negra de 23 anos, estudante de pedagogia no campus da UFPE no Agreste e presidente do diretório acadêmico (DA) do seu curso. Seu vice é o carpinteiro José Henrique, presidente licenciado do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Caruaru e dirigente nacional da organização sindical Movimento Luta de Classes.

A dupla de candidatos a vereador é formada pela estudante Raiana Rodrigues e pelo pedreiro Ednaldo Silva, o popular “Nego Lama”, militante do MLB e ex-dirigente do sindicato da construção civil (Sintracon).

Petrolina

No Sertão do estado, em Petrolina, o voto na legenda 80 vai para Maria Clara, estudante de psicologia e militante sindical. Ela tem como vice Marcelo Pessoa, militante sindical e dirigente partidário na cidade. A chapa de vereadores é composta por dois estudantes: Alysson Monteiro e Kassiane Eduarda.

História da UP

Fundado em 2016 por militantes do Partido Comunista Revolucionário (PCR) no ano de 2016, o Unidade Popular só conseguiu sua legenda eleitoral em 2019, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ratificou as mais de 500 mil assinaturas recolhidas pelos militantes do partido.

O nome da organização é inspirado na coalizão partidária que elegeu Salvador Allende no Chile, em 2016, naquela que marcou a primeira eleição de um presidente socialista na América Latina. A UP tem hoje 8,6 mil filiados no Brasil, segundo registros do TSE.

São organizações ligadas ao UP: o movimento União da Juventude Rebelião (UJR), presente no movimento estudantil; mas também o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), organização de luta por moradia; o movimento sindical Luta de Classes; e a organização feminista Movimento de Mulheres Olga Benário.

Da Redação