Mostra de cinema ‘Memórias do Golpe’ acontece em Porto Alegre de 17 a 23 de outubro

Brasil de Fato

O CineBancários de Porto Alegre (RS) recebe, a partir desta quinta-feira (17), a mostra gratuita ‘Memórias do Golpe’. Até 23 de outubro, sempre às 19h, serão exibidos seis documentários sobre o golpe militar de 1964. O objetivo é proporcionar uma melhor compreensão sobre a ditadura (1964-1985) que se instalou no Brasil e torturou, matou e perseguiu adversários políticos.

“Esse conhecimento é essencial para identificar o perigo da tutela militar que ainda persiste no Brasil”, ressalta Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), que promove a exposição em parceria com a Associação de Ex-Presos e Perseguidos Políticos/RS (AEPPP-RS) e o cinema do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários).

Além de mostrar o terror e a violência durante a ditadura militar, o evento visa resgatar a história e conscientizar o público sobre a atuação dos órgãos de segurança, responsáveis pela morte, desaparecimento e tortura de centenas de jovens no Brasil.

Krischke sustenta que especialmente os jovens precisam saber o que foi o terror de Estado que há 60 anos se implantava no país. Aponta que é uma grave falha da geração de “cabelos grisalhos” não ter conseguido passar aos jovens a realidade que assombrou o Brasil.

O presidente do MJDH defende que “o país ainda deve devolver às famílias os corpos dos desaparecidos pelos militares, e precisa responsabilizar por cumplicidade as empresas que financiaram e participaram de torturas e perseguições”, inclusive, segundo ele, empresas gaúchas.

Em seis documentários dos diretores Sílvio Tendler, Pedro Isaias Lucas Ferreira, Paulo Henrique Fontenelle e Camilo Tavares, a mostra ‘Memórias do Golpe’ traz a visão dos perseguidos e dos que combateram a ditadura.

No último dia de exposição, em 23 de outubro, após a exibição do documentário O Dia Que Durou 21 Anos, será feita uma homenagem ao jornalista Flávio Tavares, combatente e perseguido político durante os anos de chumbo.

Flávio Tavares

Graduado em Direito, Tavares exerceu profissionalmente o jornalismo. Atuou na editoria de política do jornal Última Hora, em Porto Alegre. Como correspondente, trabalhou para o diário mexicano Excelsior e o brasileiro O Estado de S. Paulo. O jornalista e escritor participou da luta armada e foi militante do Partido Democrático Trabalhista (PDT).

Durante a ditadura, foi preso em 1964, depois, em 1967. Ingressou na resistência armada, e foi preso novamente em 1969, sofreu torturas e fez parte do grupo de 15 presos políticos trocados pelo embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick, que havia sido sequestrado.

Em 1977, Flávio foi sequestrado por militares uruguaios quando estava em Montevidéu. Permaneceu 27 dias algemado, nos seis meses em que esteve preso, sendo vítima de torturas físicas e psicológicas. Foi libertado depois que uma campanha internacional pressionou o governo brasileiro, e acabou pedindo a sua libertação às autoridades uruguaias.

Ainda assim, ele não podia voltar ao país porque havia sido banido em 1969. Em janeiro de 1978, foi expulso do Uruguai e recebeu asilo em Portugal. Retornou ao Brasil em 1979, com a anistia política. Flávio foi um dos fundadores da Universidade Federal de Brasília (UnB) e autor de livros como Memórias do Esquecimento (1999) e O Dia Em Que Getúlio Matou Allende (2004).

Hoje, colabora com o periódico Zero Hora, do Rio Grande do Sul, e tem diversos livros publicados sobre a ditadura e o tempo em que esteve preso e no exílio. Recentemente, produziu o documentário O Dia Que Durou 21 Anos, dirigido por seu filho Camilo Tavares, e lançou a obra 1964 – O Golpe, em que relembra os 50 anos do início da ditadura.

Serviço

Mostra Memórias do Golpe

De 17 a 23 de outubro – sempre às 19h

CineBancários: Rua General Câmara, 424, Centro de Porto Alegre

Entrada Franca

dia 17: Jango, de Silvio Tendler
dia 18: Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle
dia 19: Advogados contra a ditadura, de Silvio Tendler
dia 20: Militares da democracia: os militares que disseram não, de Silvio Tendler
dia 22: Jango no exílio, de Pedro Lucas
dia 23: O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares (na ocasião, o jornalista Flávio Tavares será homenageado)

Jango

Direção: Silvio Tendler

Sinopse: Década de 60, Guerra Fria. No Brasil, João Belchior Marques Goulart, mais conhecido como ‘Jango’, um líder de esquerda e então presidente do país, se encontra em uma crise com ambos lados da política e sofre um golpe militar que resultaria em uma ditadura de três décadas. Importantes intelectuais e personalidades que participaram dessa fase concedem entrevistas para o documentário que retrata um dos mais marcantes momentos políticos do Brasil.

Dossiê Jango

Direção: Paulo Henrique Fontenelle

Sinopse: João Goulart havia sido eleito democraticamente presidente do Brasil, mas foi expulso do cargo após o golpe de Estado de 1 de abril de 1964. Depois disso, Jango viveu exilado na Argentina, onde morreu em 1976. As circunstâncias de sua morte no país vizinho não foram bem explicadas até hoje. Seu corpo foi enterrado imediatamente após a sua morte, aumentando as suspeitas de assassinato premeditado. Este documentário traz o assunto de volta à tona e tenta esclarecer publicamente alguns fatos obscuros da história do Brasil.

Advogados contra a ditadura

Direção: Silvio Tendler

Sinopse: Com a instauração da ditadura militar, os advogados brasileiros tiveram um papel fundamental na defesa dos direitos humanos e das garantias dos cidadãos. Uma dura luta contra as imposições do autoritarismo e a repressão, em que esses profissionais sofreram os mais diversos tipos de ameaças e restrições. Através de depoimentos e registros de arquivos, uma reflexão sobre a época em questão e sobre a luta pela liberdade.

Militares da democracia: os militares que disseram não

Direção: Silvio Tendler

Sinopse: Em meio à ditadura militar, um grupo de militares optou pela resistência ao regime, lutando pela Constituição dentro e fora dos quartéis. Uma decisão que afetou não só a eles, mas também às suas famílias. Perseguidos, cassados, torturados e mortos, as histórias de muitas dessas pessoas não vieram a público. O documentário tem a intenção de dar voz a esse grupo, que, até hoje, luta por justiça e reconhecimento nacional.

Jango no exílio

Direção: Pedro Isaias Lucas

Sinopse: Em Jango no Exílio, o documentário de Pedro Isaías Lucas retrata os doze anos do ex-presidente João Goulart, mais conhecido como Jango, durante o tempo em que ficou exilado em território uruguaio e argentino. O longa inicia com Jango a caminho de Montevidéu, em meados de abril de 1964, e finaliza com a morte controversa na província argentina de Missiones, em dezembro de 1976. Com uso de imagens inéditas, cartas, recortes de jornais, depoimentos de familiares e entrevistas, apresenta o dia a dia de Jango durante um período que se inseriu como um movimento histórico de ressignificação de sua imagem política e pessoal.

O dia que durou 21 anos

Direção: Camilo Tavares

Sinopse: Este documentário mostra a influência do governo dos Estados Unidos no golpe de Estado no Brasil em 1964. A ação militar que deu início à ditadura contou com a ativa participação de agências como CIA e a própria Casa Branca. Com documentos secretos e gravações originais da época, o filme mostra como os presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson se organizaram para tirar o presidente João Goulart do poder e apoiar o governo do marechal Humberto Castelo Branco.


Da Redação