Indígenas Avá-Guarani sofrem com pulverização de agrotóxicos e destruição de lavoura em novo ataque no Paraná
Brasil de Fato
“A gente vai morrer aqui, mas não vai recuar, não”, protesta uma liderança que não será identificada por questão de segurança, após mais uma investida contra a comunidade Yvyju Avary, dos indígenas Avá-Guarani, entre os municípios de Guaíra e Terra Roxa, no oeste do Paraná. A área faz parte da Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavira.
Em ataque recente, nesta quinta-feira (23), um trator passou por cima de plantações e pulverizou agrotóxicos perto das casas dos indígenas. “As crianças estão passando mal, estão com dor de barriga, enjoo”, relata uma mulher indígena, que também terá o nome preservado. Os indígenas gravaram vídeos da chegada do comboio, que, além do trator, era formado por um caminhão, uma caminhonete e duas viaturas da Polícia Militar. As viaturas seguiam na frente, enquanto o trator passava perto das casas despejando veneno.
Este é o segundo ataque no local em menos de uma semana. No dia 17, um caminhão e quatro tratores carregados de agrotóxicos avançaram sobre a comunidade, alegadamente a mando de um fazendeiro que reivindica a expulsão dos indígenas da área. A propriedade rural está sobreposta ao território indígena.
“Tudo que nós conseguimos salvar de plantações naquele dia, hoje foi tudo por água abaixo”, lamenta a mulher.
De acordo com a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), a comunidade Avá-Guarani vive em constante tensão devido às investidas de proprietários rurais contra os territórios indígenas em processo de regularização. Um dos fazendeiros da região aceitou negociar a venda de suas terras para a demarcação da TI, enquanto outro optou por resistir violentamente, gerando a escalada dos conflitos, que se intensificam desde julho.
Em setembro, a missão de direitos humanos organizada pelo Coletivo de Solidariedade e Compromisso com os Povos Guarani visitou três retomadas no território Avá-Guarani: as tekoha Arakoe, Araguaju e Yhovy, nos municípios de Guaíra e Terra Roxa. A delegação reuniu entidades indigenistas e de direitos humanos, autoridades e personalidades públicas em missão em solidariedade aos Guarani, alvo nos últimos dois meses de permanente violência.
Em nota, o governo do Paraná afirmou cobrar celeridade do governo federal para a resolução dos conflitos agrários na região. A nota informa ainda que, por se tratar de povos indígenas, a responsabilidade é do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e Polícia Federal (PF). “O governador Carlos Massa Ratinho Junior já se reuniu com os Ministérios da Justiça e Segurança Pública e Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar para reforçar a necessidade de buscar respostas rápidas para a segurança de todos os envolvidos”, informa.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública informa que a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) está presente no território, em apoio à Funai e em colaboração com os órgãos de segurança pública do Paraná, sob a coordenação da Polícia Federal.
“As ações da Força Nacional são em tempo integral e focadas na mediação de conflitos entre indígenas e fazendeiros da região, além da realização de patrulhas ostensivas e atividades de polícia judiciária em apoio à Polícia Civil local. Todas essas ações são conduzidas com respeito às culturas dos povos indígenas, promovendo a proteção dos direitos humanos dessa população”, informa o MJSP, por meio de nota.
O Brasil de Fato também procurou a Funai e o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), que acompanham o caso, mas não obteve retorno dos órgãos até o fechamento da reportagem.
*com informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)