Para ampliar representação no Paraná, magistério vai à luta por vagas nas câmaras municipais

Brasil de Fato

De acordo com levantamento do Tribunal Superior Eleitoral, na eleição de 2020, entre as quase 500 mil pessoas concorrendo aos cargos de vereadores e prefeitos, o título de professor liderava as ocupações dos candidatos, aparecendo em 17.754 inscrições. No estado no Paraná, também há uma extensa lista de professores e professoras que concorrem  a uma vaga nas câmaras. 

Entrevistadas pelo Brasil de Fato Paraná, algumas das candidaturas progressistas do estado voltadas à pauta da educação sinalizam que os legislativos precisam ser representados por quem entende e vive a educação.

Políticas públicas não chegam para quem mais precisa

O professor e pré candidato a vereador pelo PT de Curitiba, Silvio Marcos dos Santos, leciona na periferia da capital do Paraná e constata no dia a dia a distância entre o poder público e a população.

“É vivendo a realidade cotidiana como professor em bairro da periferia que percebo o quanto as políticas públicas não chegam,” diz.  Para ele, a educação municipal passa por um momento dramático na cidade. “Estamos vivendo um dos momentos mais dramáticos na educação em Curitiba. Os governos de plantão estão sendo muito lesivos para os currículos escolares, terceirizam nas carreiras, fazem maquiagens na estrutura das escolas, entre outros problemas,” cita. Entre suas propostas, se eleito, o professor quer contratação imediata de profissionais de apoio especializado, por meio de concurso, para o trabalho com estudantes com deficiência, profissionais de psicologia para compra de equipes escolares e obras de acessibilidade nas escolas.

Foi também vivendo o cotidiano do bairro onde viveu que o professor Everton, pré-candidato pelo PDT, começou a se interessar por política. “Meu envolvimento com a educação começa desde o momento da formação em escola pública. Estudei no Colégio Estadual Senhoria de Moraes Sarmento, no Cajuru, e sempre, como estudante visualizei muitas das dificuldades que os professores passavam. Então, a localidade onde eu cresci é muito violenta. Perdi uma base de 30 amigos, em relação a guerras ali de gangues, e também oito primos, e vi na educação uma saída para não acabar no mesmo caminho, sabe”, diz.

 “Decidi me candidatar por não me sentir representado. Pela falta de fiscalização da prefeitura e a falta de projetos de lei e políticas públicas que realmente colaborem para mudar a educação e a cidade. Pela insatisfação de como a população das periferias são negligenciadas”, cita.  E, justamente por isso, é que se eleito, deseja, segundo ele, “fazer frente aos projetos, à fiscalização, realizar um diagnóstico em todas as escolas de Curitiba e de fato levar dignidade à escola, às comunidades, às crianças, às famílias, que não seja só um depósito, mas que a escola de fato dê qualidade na formação dessas crianças”, conclui.

Moradia e educação

Diante do contexto difícil das periferias das cidades, os candidatos também propõem pensar o acesso à educação juntamente com o acesso à moradia. O professor Paulo Vieira, pré-candidato a vereador pelo PT Curitiba, defende que é precisar pensar nas periferias em todo o seu contexto.

“Eu moro no Sítio Cercado há 27 anos, morei na Ocupação no Chapinhal e estou no Bairro Novo, estou num bairro periférico. Então, defendo muito resolver o problema das moradias, pois se trata de um projeto popular e social que tem total relação com o acesso à educação. É preciso ter um projeto para, por exemplo, regularizar os mais de 400 pontos, garantir que a população de baixa renda tenha acesso à moradia,” diz.

Paulo também cita o olhar para a população adulta nas periferias. “Todo o problema social nas periferias está na falta de acesso à educação. Pesquisas apontam, por exemplo, que Curitiba tem aproximadamente 25% da sua população com curso superior. Já aqui no Sitio Cercado esse percentual cai para 6%. Ou seja, é preciso, por exemplo, olhar para a educação e qualificação de jovens e adultos nestas regiões”, propõe.

Também o professor Ricardo, pré candidato a vereador pelo PT de Campo Magro, decidiu se candidatar para fortalecer a luta por moradia digna e educação de qualidade. Ele conta que sempre esteve envolvido com política e, hoje, atua efetivamente no movimento voltado à luta por moradia.

“Me candidatei para equilibrar a balança política que vem perdendo cada vez, mas para um conservadorismo vazio e contraditório, de caráter fascista. Sempre tive uma participação política, primeiro de forma independente fortalecendo manifestações políticas e greves da educação, e hoje, além da educação, participo da luta pela moradia como coordenador do Movimento Popular por Moradia no Paraná”, relata.

Para Ricardo, a sua principal bandeira é superar a realidade de exclusão em que vivem as populações mais pobres. “Quero, como vereador, lutar para garantir atendimento a todos e todas sem excluir a pessoas que vivem em comunidades carentes. Sei que no passado a Prefeitura de Campo Magro já negou atendimento escolar e de saúde para pessoas que vivem em ocupações, são direitos constitucionais, é obrigação da prefeitura garantir. Quero fazer de Campo Magro um exemplo de respeito aos direitos dos cidadãos,” diz.

Das lutas pela escola pública para um legislativo representativo

Foi o dia da violência do governo Beto Richa (PSDB) contra os professores, conhecido como o “Massacre do dia 29 de Abril” que a professora da rede estadual de ensino, Ângela Alves Machado, diz ter sido um divisor de águas em sua vida e de lá começou a se envolver mais ativamente na política partidária.

“Sou filha de um pedreiro e de uma costureira que sempre me ensinaram a ter consciência de classe. Sempre fui sindicalizada e militante da educação, sempre estive na defesa da educação. Porém, o Massacre do Cívico no dia 29 de abril de 2015 foi um divisor de águas pra mim, foi a partir daquele dia, em que sofremos um ataque violento por parte do estado e tive a pior experiência enquanto classe trabalhadora, que senti a necessidade de me organizar num partido político”, conta.  

Ângela é pré-candidata a vereadora pelo Psol de Curitiba e afirma que seu compromisso, se eleita, é a defesa da escola pública e da qualidade da educação em Curitiba.

“Essa defesa passa pela luta por melhores condições de trabalho nas escolas, profissionais qualificados, salário digno para os trabalhadores da educação e ampla participação da comunidade nos processos de decisão sobre questões administrativas e pedagógicas das escolas bem como, a garantia de uma infraestrutura adequada, recursos suficientes e uma inclusão escolar efetiva.

Das lutas sindicais que passa pela representação dos professores como presidente da APP Sindicato, o professor e pedagogo Hermes Leão, é pré-candidato a vereador pelo PT de Curitiba por acreditar em um projeto coletivo e emancipador. “Decidi me candidatar em razão de um projeto coletivo inserido na luta de classes, na luta por uma cidade mais justa, igualitária, solidária e, também, para poder aproveitar o espaço público para trabalhar os valores que se contraponham a esse período tão autoritário, tão polarizado que vive o mundo e o nosso país, a nossa cidade,” diz.

Hermes conta que começou sua militância política exatamente no período em que começou a trabalhar como professor. “Quando eu comecei a trabalhar como professor de Educação Física, já me sindicalizei e comecei a participar das lutas sindicais e também das lutas partidárias,” conta. 

Justamente por sua trajetória, o professor tem, entre suas propostas, lutas que foram feitas por ele. “Temos que trabalhar uma qualificação do processo da educação especial, cuidar da inclusão com qualidade das crianças, reforçar as redes de proteção, visando o cuidado com crianças que estão em situação de vulnerabilidade, e retomar a importância dos funcionários de escola”, cita.

Também dirigente da APP Sindicato, o professor e pré candidato a vereador pelo PT de Curitiba, Clau Lopes, diz que sua história de vida sempre o levou a querer mudar o cenário vivido.

“Sou homem preto, periférico, sindicalista e essas questões sempre me colocaram nesta posição de enfrentamento ao projeto neoliberal da nossa sociedade. Eu sou historicamente, o primeiro dirigente estadual mais jovem da história da entidade e acho que isso também me colocou nesse lugar de representatividade, de pensar na política”, diz.

Clau diz que seu diferencial também tem relação com a vivência na realidade da periferia. “Eu trago essa representação de um jovem gay, preto e da periferia. Eu sou da região do Tatuquara, moro nas regiões de ocupações, sempre trabalhei em escolas da periferia. Se eleito, meu projeto é garantir que professores ou trabalhadores da educação ocupem esse espaço para, pelo menos, minimizar tantas doenças e precarizações que o município de Curitiba vem fazendo na educação pública,” cita. Além disso, Lopes cita demandas como zerar a fila das creches, lutar pela construção de mais Cmeis [centros municipais de educação infantil] e mudar a política de oferta de educação integral para todas as escolas.

Já  a professora e pré-candidata pelo PT de São José dos Pinhais, Simone Barbosa, tem como lema defender democracia e educação. “Iniciei na política a partir da entrada na universidade ao cursar Geografia. Participei de ações contra Jaime Lerner junto com a APP-Sindicato e estando em um curso de formação de trabalho para o magistério nas políticas educacionais, aprofundei o conhecimento sobre a dinâmica da política partidária diante a realidade e da sua importância de ocuparmos esses espaços legislativos e executivos por nós educadores. Diante disso, falar e fazer política são elementos que estão juntos pela manutenção da democracia e, consequentemente, pela defesa da Educação Pública”, diz.

Simone aponta o acompanhamento das metas do Plano Nacional da Educação como um trabalho importante a ser feito se eleita. “Temos um grande trabalho pela frente para os próximos anos e de grande importância, pois o ano de 2025-2035 iniciará a reformulação dos Planos da Educação: Nacional, Estadual e Municipal. O principal objetivo da nossa candidatura é atuar nesse segmento para garantir o avanço da Educação, tendo o foco em seu financiamento”, diz.

Também o professor universitário da UEM e ex-presidente da Sesduem, Edmilson Aparecido da Silva, pré-candidato pelo Psol de Maringá, defende que as câmaras municipais tenham defensores da educação publica de qualidade e referenciada.  

Da formação política na igreja às candidaturas a vereador, prefeito e deputado federal, além das representações sindicais como presidente da Sesduem e 1° vice presidente da Regional Sul do ANDES, Edmilson acredita que só a participação política muda a educação. “Por entender a importância da educação para transformação das pessoas e da sociedade, entendo que é primordial a participação de pessoas ligadas à educação na política, pois conhecem as dificuldades nas lutas” diz.

Se eleito, tem como propostas “lutar pela regularização e implementação das carreiras de todas e todos os profissionais da nossa educação e outros servidores públicos e zerar a fila de espera dos Cmeis acabando com as compras de vagas que é um escandaloso exemplo da transferência de recursos públicos para a iniciativa privada que busca o lucro sempre em detrimento dos serviços públicos”, cita.  

Por uma educação mais inclusiva

Pelo PC do B de Curitiba, a professora Amabile diz que sua pré-candidatura veio fruto de um trabalho que desenvolve há mais de uma década junto à comunidade autista e de pessoas com deficiência. “Sou mãe de dois filhos autistas e presidente da associação mais antiga do estado do Paraná de luta pelos direitos das pessoas autistas, a União de Pais Pelo Autismo”, diz.

Unindo sua experiência de mãe e professora ao ativismo por uma educação mais inclusiva, Amabile diz que o pontapé inicial de sua atuação foi quando percebeu preconceitos em relação às crianças autistas. “Como professora, passei a lutar pela inclusão e pelos direitos das pessoas consideradas ‘diferentes demais’, que estavam e estão sem acesso à escola regular. Questionar o direito básico de uma criança ou jovem de estar dentro da escola, além de crime é imoral e pode sentenciar toda uma vida de exclusão e perda de direitos fundamentais,” cita.

Entre suas principais propostas, ela defende o acesso das crianças à escola aberta o ano inteiro, acompanhamento de tutores especializados, Plano de Carreira dos professores e dos profissionais da educação e gratificação salarial para profissionais da educação que se formarem em educação inclusiva.

Entre suas pautas, a da inclusão é também que move o pré-candidato a vereador pelo Psol da cidade de Almirante Tamandaré (RMC). O professor, capoeirista e ativista antirracista David Urbano, o Robinho.

Entre suas propostas, está o desejo de garantir o acompanhamento psicológico e de assistência social – por meio de equipes multiprofissionais — às e aos estudantes das escolas da rede pública municipal, efetivando em Almirante Tamandaré o direito já estabelecido na Lei Federal n° 13.935/19 e também “apresentar um Projeto de Letramento Racial em toda rede municipal de ensino, além de ma indicação ao Prefeito por implementar aulas de capoeira no contraturno escolar”, aponta.

Robinho diz que sua decisão em se candidatar é coletiva. O envolvimento na política começou acompanhando a mãe no movimento de pastorais da Igreja Católica e, logo depois, entrou no grêmio estudantil até chegar à política partidária.

“Decidi me candidatar juntamente com os demais camaradas do Coletivo Alicerce, uma corrente que se organizou a partir dos protestos de 2013 e da necessidade de organização da revolta e insatisfação dos jovens e da classe trabalhadora com o sufoco e a falta de oportunidade. Nós decidimos coletivamente que a eleição também é uma oportunidade de construir unidade popular e organização da classe trabalhadora,” diz Robinho.

Para a também candidata Carine Piassetta, docente do IFPR e pré-candidata a vereadora pelo PDT Curitiba, sua ida para o legislativo é continuar o que faz, reforçar os laços entre a comunidade e as questões educacionais que afetam nossa cidade. “Sou filha de professores e, desde pequena, estive envolvida em atos para a melhoria da educação municipal e estadual. Minha mãe, uma ativista incansável, sempre me incentivou a lutar pelos meus direitos, enquanto meu pai priorizava os estudos. Como professora e filha de professores, sempre busco ajudar as pessoas a se encontrarem através da educação, pois acredito que o conhecimento é essencial para essa jornada”, diz.

Se eleita, Piassetta, entre suas várias propostas, quer se comprometer com as necessidades da comunidade e com a inclusão. “Serei a vereadora que todas as pessoas poderão contar em busca da inclusão social e cidadania. Revisar as leis municipais e fiscalizar o governo da prefeitura. Proponho a implementação da língua de sinais nas escolas municipais de Curitiba, onde todas as crianças aprenderão Libras como segunda língua. Esta iniciativa é fundamental para construir uma cidade mais inclusiva e acolhedora,” diz Carine que, atualmente, além de professora, também preside a Ação da Mulher Trabalhista de Curitiba do PDT, além de ocupar o cargo de vice-presidente da AMT Paraná do PDT.

Em busca da reeleição 

Pelo PDT de Maringá, a professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Ana Lúcia Rodrigues, ocupa atualmente seu primeiro mandato como vereadora na Câmara Municipal de Maringá e, se conseguir a reeleição, quer continuar a apresentação de projetos de lei para concretizar os direitos sociais assegurados na Constituição. “Eu apresentei durante três anos e meio 220 projetos de lei, eu já tive quase 200 aprovados e sancionados pelo Executivo e, agora, ainda há em relação à educação uma luta muito importante que é assegurar o Piso Salarial Nacional. Portanto, eu continuo na fiscalização e na cobrança ao Executivo”, diz.

Para ela, a educação integral deve merecer mais atenção também se reeleita. “Para mim, a educação integral em todo ensino fundamental até o 9º ano é a garantia de fato de construirmos e de vencermos a profunda desigualdade”, conclui Ana Lúcia que começou a se aprofundar na reflexão sobre políticas públicas quando atuou no Observatório das Metrópoles.

Mais tarde, em 2015, a professora resolve ir para a política partidária após o 29 de abril de 2015. “Após o massacre que o governo. estadual do Beto Richa fez, em 29 de abril de 2015, contra os professores, em frente ao Palácio do Governo, é que nós reunimos um grupo e de lá para cá eu me filiei e acabei me tornando uma voz, representando a educação pública do Paraná e os movimentos,”diz. 

*A Redação do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com as assessorias dos partidos solicitando lista de nomes de professores e professoras que estarão concorrendo às vagas nas câmaras municipais do Paraná. 

Da Redação