Porto Alegre: Feira Ecológica do Bom Fim completa 33 anos com celebração da agroecologia

Brasil de Fato

Com direito a música, mística e reflexão sobre a importância da agroecologia e sustentabilidade, foram celebrados neste sábado (31) os 33 anos de existência da Feira Ecológica do Bom Fim, em Porto Alegre (RS). A feira estreou em agosto de 1991, marcando a segunda iniciativa do gênero no país com foco na venda de produtos orgânicos diretamente do produtor ao consumidor.


Pocket show de Frank Jorge também comemorou seus 40 anos de trajetória musical / Foto: Jorge Leão

A programação contou com pocket show de Frank Jorge, que teve como mote seus 40 anos de trajetória musical, e a contribuição do jornalista, escritor, tradutor e youtuber Eduardo Bueno, o Peninha, eleito padrinho da festa. Também teve entrega dos cestos de orgânicos aos vencedores do Concurso Fotográfico Um Olhar sobre a Feira. Durante a representação da mística foram utilizados elementos da lida no campo, como alimentos, sementes, plantas, ervas, chapéus, ferramentas de trabalho, entre outros objetos. 


Convidados do evento, como Peninha, receberam cestos de orgânicos / Foto: Jorge Leão

“Esses 33 anos de Feira Ecológica do Bonfim são muito significativos porque, além de ser um evento cultural da diversidade de alimentos e um ponto de cultura da cidade de Porto Alegre – que ocorre todo sábado, faça chuva, faça sol, faça frio, calor –, é um ponto de encontro político e de defesa de um projeto político, que é a agroecologia”, afirma o feirante Huli Marcos Zang, produtor de arroz orgânico do assentamento Filhos de Sepé, em Viamão. 

A feria germinou em número de expositores e diversidade, contando atualmente com mais de 60 famílias oriundas de Porto Alegre, região metropolitana, Serra Gaúcha e Litoral Norte, entre outras localidades do RS. 

“A feira é a junção de mais de 60 famílias agricultoras de diversas regiões do estado, que se reúnem para mostrar que a agroecologia é possível. E se a agroecologia é possível, nos traz a reflexão de porque tanto veneno, porque tanto desmatamento, porque tanto fogo, porque tanta destruição da natureza”, enfatiza Zang. 


Huli Marcos Zang é produtor orgânico do Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão / Foto: Jorge Leão

De acordo com o feirante, a celebração traz também a reflexão de que é possível uma nova forma de um mercado mais justo, mais próximo. “Um mercado que as pessoas saibam do que estão se alimentando e da onde vem o alimento. É um mercado que não seja apenas ganância, mas um mercado que traga consigo a perspectiva de uma troca justa entre quem consome e quem produz”, expõe o feirante. 

Há mais de uma década, Cleide dos Santos Roxo visita a feira. Ela destaca, como apontado por Huli, a importância de se saber a procedência e dos laços que vão se formando entre feirante e “cliente”.

“A questão de conhecer os feirantes, tu saber que eles de fato são agroecologistas, que têm cuidado com o ambiente e a qualidade dos alimentos. Isso acaba criando uma cultura. Existe uma diferença muito grande também porque são produtos frescos que não foram previamente refrigerados, então eles têm uma durabilidade maior. E também o preço, que às vezes é até mais barato do que alguns produtos nessas grandes redes varejistas.”


Cleide dos Santos Roxo é cliente há mais de uma década da feira / Foto: Jorge Leão

Consumo saudável 

Feirante há quase 23 anos no local, Romildo Hahn Chardosin, da cidade de Dom Pedro de Alcântara, conta da alegria de fazer parte dessa história. “A gente está muito feliz por trabalhar com o povo de Porto Alegre. Eles tratam muito bem da gente, sabe, porque nós trazemos esse alimento puro para eles. De cultivo e cuidado com a natureza. Eles gostam de conversar com a gente, perguntar nossa história. Eu criei meus filhos aqui, então espero ficar mais 30 anos, porque aqui pra mim é o meu ponto de divertimento, é onde eu me sinto bem.”

Romildo conta que sempre usa uma frase com seus fregueses: “Aqueles gastos aqui não vão gastar na farmácia. Além de comprar com um preço menor que do mercado convencional. Tudo que a gente vende é aquilo que a gente produz, um produto limpo, que vai ajudar na saúde, na natureza e no mundo”.  


Romildo Hahn Chardosin e família estão há 23 anos na feira / Foto: Jorge Leão

Aos 80 anos, Sônia Meller frequenta, praticamente, todos os sábados a feira a procura de alimentação saudável. Ela conta que vai ao local bem antes do início da sua criação oficial, desde as palestras que havia no restaurante do Bajo. “Eu acompanhei o primeiro grupo de ecologistas. Então sempre quando posso eu venho aqui. Levo legumes e frutas para casa. E nesses anos todos sempre se mantém num padrão maravilhoso.”

Outro frequentador assíduo da feira, Sérgio Baltazar de Lemos, natural de Salvador e há 18 anos residindo em Porto Alegre, conta que além de comprar os produtos orgânicos, gosta das atividades culturais. “Eu acho complexo a gente ficar comendo coisas com tanto agrotóxico e tanto veneno. Fora os produtos da feira, às vezes tem atividades culturais e outras coisas que me atraem. Então para mim é um passeio de sábado de manhã.”

Sérgio Baltazar de Lemos é frequentador assíduo da feira / Foto: Jorge Leão

“A importância da feira é o marco de resistência política e de alimento saudável para a população. É um momento de comemoração, é um momento em que a gente tem que festejar as conquistas da agroecologia, da alimentação saudável”, afirma Felisberto Seabra Luisi, conselheiro do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental da Região de Planejamento 1 e integrante do Coletivo Preserva a Redenção.


Foto: Jorge Leão


Foto: Jorge Leão


Foto: Jorge Leão

Da Redação