Centro Carter questiona veracidade de ataques hacker durante eleições na Venezuela; ‘mentira descarada’, rebate Caracas

Brasil de Fato

A chefe da missão de observação do Centro Carter, Jennie Lincoln, afirmou nesta quinta-feira (8) que “não há evidência” de que o sistema eleitoral da Venezuela tenha sido alvo de um ataque hacker nas eleições presidenciais de 28 de julho. 

“Empresas monitoram e sabem quando há negações de serviço [ataques cibernéticos] e não houve um naquela noite”, explicou Lincoln nesta quinta-feira (8), em entrevista em Atlanta, nos Estados Unidos. “A transmissão dos dados de votação é feita por linha telefônica e telefone via satélite, e não por computador. Eles não perderam dados”, acrescentou.

O governo venezuelano respondeu por meio do chanceler Yván Gil, afirmando em sua conta na rede social X que todo o trabalho e prestígio construído por Jimmy Carter em seu centro de monitoramento eleitoral, foi “jogado no lixo” por Licoln, a quem classificou como “assalariada do Departamento de Estado” dos EUA.

“Mente descaradamente, nenhuma de suas palavras correspondem com a realidade nem com a legalidade venezuelana”, escreveu Gil. O chanceler da Venezuela afirmou que o Centro Carter faz parte de um “plano de golpe de Estado, apoiando a execução dos delitos eleitorais mais rasteiros já vistos na era republicana da Venezuela, cometidos por hordas fascistas.”

Disputa de narrativas

O Centro Carter foi convidado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela para observar o pleito em que o presidente Nicolás Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos, de acordo com os números divulgados pelo órgão eleitoral. O CNE não publicou resultados detalhados e alega que o atraso se deve a um ataque hacker, enquanto Maduro denuncia um “golpe de Estado ciberfascista”.

O Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ) recebeu na última segunda-feira (5) as atas eleitorais recolhidas pelo CNE no dia das eleições. Agora, a Justiça vai analisar o material recolhido para identificar as denúncias de fraude feitas pela oposição. 

A entrega das atas foi determinada pela Sala Eleitoral do TSJ, responsável por julgar questões ligadas às eleições. Na última sexta-feira, a presidenta da Corte, Caryslia Rodríguez, determinou que o órgão eleitoral apresentasse, no prazo de três dias, as atas de apuração e totalização dos votos da eleição presidencial. 

Colômbia, Brasil e México, que lideraram um acordo de mediação entre as partes, sugeriram a “verificação imparcial dos resultados”. 

O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, disse nesta terça-feira (6) ter contato direto com o chanceler brasileiro Mauro Vieira para fortalecer a comunicação com o governo venezuelano, pedindo a entrega das atas eleitorais. Na segunda, o presidente da França, Emmanuel Macron, já havia apoiado Lula nesse processo. 

A postura dos dois países se soma à última posição do governo dos Estados Unidos em uma declaração de confiança no governo brasileiro para amenizar a disputa política em torno das eleições da Venezuela.

 

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Desde a divulgação da vitória de Nicolás Maduro em 28 de julho, o governo brasileiro tem conseguido dialogar com outros países e articular a redução de tensão no país vizinho.

As Forças Armadas da Venezuela responderam na terça-feira (6) o comunicado da oposição que pedia uma “desobediência dos militares” para “respeitar o resultado” das eleições. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, disse que esse movimento foi um “pedido de golpe”. Em nota, o candidato derrotado nas eleições venezuelanas Edmundo González Urrutia se autoproclamou “presidente eleito” do país e voltou a afirmar, sem provas, que o presidente reeleito, Nicolás Maduro, não teve mais de 30% dos votos.

A oposição não reconhece o resultado, mas também não apresenta provas ou recorre à Justiça para questionar o pleito. Segundo ela, González teria recebido 67% dos votos. A oposição de extrema direita afirma ter recolhido de 70% das atas e que isso garantiria a vitória do ex-candidato pela Plataforma Unitária.

Mas o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE), anunciou a vitória de Maduro em 28 de julho com 80% das urnas apuradas e, cinco dias depois, atualizou os dados. Segundo o órgão, o mandatário recebeu 6,4 milhões de votos (51,97%) contra 5,3 milhões (43,18%) do opositor Edmundo González com 96,87% das urnas apuradas.

*Com AFP e Últimas Notícias

                

Da Redação