Em Camaragibe (PE), esquerda indica apoio à candidato do Republicanos, mas terá que superar rejeição

Brasil de Fato

Na cidade de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife (PE), os partidos de esquerda e centro-esquerda se unificaram em torno da candidatura de Diego Cabral (Republicanos), um raro rosto novo nas disputas do município. Enquanto a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB, PV) oficializou a aliança, PSB, Psol e Rede mantiveram independência formal, mas devem indicar voto em Cabral, que terá a força da prefeitura a seu favor, mas, contra si, a rejeição de 72% à gestão.

Cabral foi secretário de Serviços Públicos na gestão da prefeita Nadegi Queiroz (Republicanos). O principal cacique do Republicanos no estado, o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, escolheu Cabral para suceder a prefeita, que, por sua vez, o propagandeia como “bom gestor”, apesar de a gestão municipal ter baixa aprovação popular.

Segundo levantamento do Instituto Exatta, em abril, 72% dos camaragibenses reprovavam o governo Nadegi, com críticas especialmente aos serviços municipais de saúde e à falta de calçamento de vias. Apenas 11,5% tinham opiniões positivas sobre a gestão no momento da pesquisa.

Sobre o assunto, o Brasil de Fato Pernambuco conversou com o presidente municipal do PT em Camaragibe, o professor Ivan Ruy. Morador do bairro do Timbi, ele afirma que a gestão atual “é um canteiro de obras, está entregando muita coisa para a população”. O PT tem duas secretarias na atual gestão: a de Habitação e a de Desenvolvimento Econômico, além da Secretaria Executiva da pasta da Educação.

Ivan Ruy afirma que a gestão Nadegi enfrentou dificuldades, como a pandemia de covid-19 e o governo Bolsonaro. “Nenhuma prefeitura do Brasil conseguiu responder como gostaria”, ameniza. Ele acredita que a rejeição se dá por falhas na comunicação. “Não existe um motivo único, mas se a comunicação fosse mais sensível ao trabalho que Nadegi vem fazendo, não haveria essa reprovação”, opina.

O PT compõe o governo desde a entrada de Nadegi na prefeitura, em 2019, quando o então prefeito Demóstenes Meira sofreu impeachment, deixando na cadeira a vice Nadegi, reeleita em 2020. Para a disputa de 2024, o PT indicou para a vice de Cabral, a guarda municipal Débora Lourdes (PT), conhecida como “Comandante Débora”.

Diego Cabral (Republicanos)


Diego Cabral (Republicanos) e a Comandante Débora (PT) compõem a chapa apoiada pela atual gestão / Reprodução

Em conversa com o Brasil de Fato Pernambuco, o dirigente petista disse acreditar que, com o amplo leque de alianças de Diego Cabral, somado ao corpo a corpo da campanha nas ruas, essa rejeição será revertida.

“Temos 84 pré-candidatos que vão fazer o povo saber quem é Diego”, diz Ruy, confiante. “Faremos uma campanha propositiva e o povo verá que ele é preparado, tem visão de futuro para o município e um discurso propositivo à altura das nossas necessidades”, resumiu.

Oficialmente, a coligação encabeçada por Diego Cabral tem, além do Republicanos, apenas a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV). Mas o PSB, a Federação Psol-Rede e o Solidariedade também devem apoiá-lo, apesar de não terem oficializado a coligação junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O BdF Pernambuco também conversou com Salvelina de Souza, presidenta municipal do Psol. Ela explica que o apoio não foi formalizado junto ao TSE por um veto da direção nacional do Psol a alianças com o Republicanos.

Salvelina conta que os candidatos a vereador da Federação Psol-Rede está unificada em torno da candidatura de Cabral. “Não conseguimos formar uma candidatura própria para a majoritária. E achamos que Diego é o mais preparado neste momento para reconstruir Camaragibe. Não passou pela nossa cabeça apoiar algum dos outros”, diz ela, ponderando que se a candidatura de Ednaldo Moura (PSB) tivesse se viabilizado, teria sido um bom nome.

Um outro fator que encoraja os aliados da gestão é que, no campo da oposição, os nomes também têm considerável rejeição ou são também desconhecidos. As pesquisas apontam, até o momento, que o principal adversário é o ex-prefeito Jorge Alexandre (ex-PSDB, hoje no Podemos), empresário do ramo farmacêutico.

Jorge Alexandre (Podemos)


O ex-prefeito Jorge Alexandre (Podemos) e o vereador Renê Cabral (União Brasil) formam chapa de oposição em Camaragibe / Reprodução

Jorge Alexandre foi prefeito de Camaragibe por apenas uma gestão, de 2013 a 2016, quando saiu derrotado pela chapa Meira-Nadegi. Ele pode ter dificuldade de conquistar os eleitores que têm memórias negativas de seu período.

O petista Ivan Ruy acredita que a candidatura do ex-tucano é a única competitiva, além da de Diego. “Mas a tendência de Jorge é perder votos. Ele já está no teto dele”, torce o dirigente do PT.

E se é verdade que o ex-tucano conseguiu formar uma aliança forte este ano – sua coligação reúne Podemos, a federação PSDB-Cidadania, União Brasil, Avante, Mobiliza e PRD -, também é verdade que seu arco de aliados conta com diversos nomes de dentro da criticada gestão atual, mas que pularam do barco com a proximidade da eleição. Jorge tem apoio, por exemplo, do atual vice-prefeito Délio Junior e de nove dos 13 vereadores de Camaragibe.

Um deles é Renê Cabral (União Brasil), irmão do candidato Diego Cabral. Renê é presidente da Câmara de Vereadores, integrava a base da prefeita e era filiado ao Republicanos. Nos bastidores, ele pleiteava ser o candidato da gestão Nadegi, mas, em janeiro, foi informado que não era o nome escolhido pelo ministro Costa Filho. Então, rompeu com a gestão e agora é candidato a vice-prefeito na chapa de Jorge Alexandre.

Bosco Silva (PP)


Os deputados Eduardo da Fonte (à esquerda) e Cleiton Collins (à direita) na oficialização da chapa formada por Bosco Silva e pelo pastor Léo Britto, todos do PP / Reprodução

Outro velho conhecido que volta à disputa é a liderança evangélica Bosco Silva (PP), que foi vereador de Camaragibe por três mandatos, vice-prefeito na gestão de Jorge Alexandre (2013-2016) e secretário de Articulação Política na gestão de Nadegi por anos, até deixar o cargo em janeiro deste ano.

Felipe Dantas (PL)


Felipe Dantas (PL) participou de ato esvaziado para receber o ex-presidente Bolsonaro (PL) em Camaragibe, em agosto; o candidato não tem em suas redes quaisquer fotos ao lado de sua vice Ana Karolynne / Reprodução

O candidato de Bolsonaro em Camaragibe é o advogado Felipe Dantas (PL), que garantiu o apoio – também não formalizado – do Partido Novo, que desistiu da candidatura do dentista Adriano Campos (Novo). A vice de Dantas é a advogada e servidora pública Ana Karolynna Cândido (PL).

Dr. Luiz Rocha (DC)


O juiz Luiz Rocha (Democracia Cristã) tentou ser candidato pelo PL, mas foi preterido e acabou no DC. Sua vice é Jaci Freitas, do mesmo partido / Reprodução

A corrida tem ainda o juiz Luiz Rocha (Democracia Cristã), que escolheu para a vice a administradora Jaci Freitas (DC).

PSB ensaia candidatura e entrega aliança

No último dia 6 de julho, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), classificou Cabral como “líder promissor” e de “perfil trabalhador e dedicado” em publicação na qual aparece ao lado do pré-candidato e do dirigente estadual do Republicanos, o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.

A definição do apoio, sinalizada semanas antes pelo presidente estadual do PSB, deputado Sileno Guedes, foi lamentada pela chapa de pré-candidatos a vereadores do partido. Uma carta assinada por 13 dos 14 pré-candidatos afirmava insatisfação com a possibilidade de aliança com o candidato da atual gestão.

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Ao longo dos últimos meses, o PSB realizou encontros locais para debater os problemas de Camaragibe e atrair potenciais candidatos e apoiadores, processo acompanhado de perto pelo deputado federal Pedro Campos (PSB), irmão do prefeito do Recife.

As atividades foram parte de uma reconstrução do partido em Camaragibe, onde sua última candidatura majoritária foi em 2012. Em 2016 e 2020, o PSB elegeu apenas um vereador.

Dessas plenárias, surgiram dois nomes que postulavam a candidatura à prefeitura: o vereador Paulo André, ex-líder da bancada governista na Câmara de Camaragibe; e o de Ednaldo Moura Junior, secretário executivo de Educação da gestão João Campos no Recife e líder do grupo de ativista “Viva Camaragibe”. Ednaldo já tinha recebido apoios declarados de pelo menos 40 pré-candidatos à vereança pelo PSB, Solidariedade, Agir e PMB.

Ambos esperavam representar a novidade na disputa deste ano, mas acabaram rifados. Paulo André vai disputar a reeleição, mas sua entrada na campanha majoritária ainda é incerta. Já Ednaldo Moura Junior não vai disputar as eleições e nem se engajar na campanha majoritária apoiada pelo PSB.

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A força dos caciques

Além da alta rejeição da prefeita Nadegi, a pesquisa do Instituto Exatta, de abril, que a governadora Raquel Lyra (PSDB) é rejeitada por 71,5% e tem 28,5% de aprovação. Já o presidente Lula (PT) é aprovado por 57% e rejeitado por 28,5%. Nadegi e Lula apoiam Diego Cabral, enquanto Raquel apoia Jorge Alexandre.

Câmara de Vereadores

Na disputa por uma das 13 cadeiras na Câmara Municipal, a chapa da Federação Brasil da Esperança será composta por seis candidaturas do Partido dos Trabalhadores (PT), quatro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e quatro do Partido Verde (PV). O objetivo, segundo Ivan Ruy, é conseguir eleger ao menos três da federação, sendo um do PT, que hoje não possui vereadores em Camaragibe.

Perfil de Camaragibe

A disputa eleitoral ainda é definida em turno único. Segundo dados do TSE, Camaragibe tem hoje 125,4 mil eleitores. No último pleito, em 2020, os votos válidos corresponderam a 82% do eleitorado, o que hoje equivaleria a 102,8 mil votos. Metade (51,4 mil) garante a eleição do prefeito, mas a vitória tende a ser garantida com bem menos (40 mil votos).

Já para vereador, na disputa de 2020, o último partido a eleger um vereador fez 3,7 mil votos. Para este ano, o quociente eleitoral para um legenda ter um candidato eleito deve girar em torno dos 4 mil votos.

O município tem 147,7 mil habitantes, estando entre os dez mais populosos de Pernambuco. Na economia, Camaragibe é um dos municípios mais pobres da região metropolitana. O PIB do município é de R$ 2,2 bilhões, divididos entre contribuições dos setores de comércio e serviços (54,1%), dos cargos na administração pública (38,2%), da indústria (6,3%) e agricultura e pecuária (1,4%).

O salário médio dos seus moradores é R$ 2,5 mil, número puxado para cima por um grupo pequeno que tem salários bem acima da média. É possível afirmar isso porque apenas 12,3% da população tinha ocupação, segundo dados do Censo 2022, enquanto 42% dos camaragibenses tinham rendimentos mensais abaixo dos R$ 706.

Da Redação