Pesquisa da UnB detecta níveis severos de poluição ligada ao incêndio no Parque Nacional de Brasília

Brasil de Fato

O Projeto Prometeu, vinculado ao Instituto de Ciências Biológicas (IB) da Universidade de Brasília (UnB), identificou níveis severos de poluição da atmosfera da Asa Norte relacionados ao incêndio que atingiu o Parque Nacional de Brasília, no Distrito Federal (DF), no mês de setembro.

A pesquisa, conduzida pelo professor Carlos Henke, do departamento de ecologia, registrou os dados em duas incursões de campo no dia 17 de setembro, utilizando uma sonda meteorológica móvel, três dias após o fogo atingir a região.

As chamas na unidade de conservação ambiental federal iniciaram por volta das 11h20 do dia 15 de setembro e levaram cinco dias para serem controladas. O incêndio consumiu uma área de 1.473 hectares, fato confirmado por imagens de satélite, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

O professor da UnB realizou uma análise qualitativa dos dados obtidos, com objetivo de gerar compreensão sobre o cenário, provocar o debate sobre políticas de prevenção a incêndios e aprimorar a reação de autoridades em eventos futuros.

Nesta quarta-feira (24), o Parque Nacional de Brasília reabriu uma de suas piscinas na Água Mineral, fechada para o público há aproximadamente uma semana. As trilhas, no entanto, seguem fechadas para visitação.

Qualidade do ar

Em 16 de setembro, a UnB chegou a suspender as atividades presenciais na instituição em razão das condições climáticas adversas e da baixa qualidade do ar, decorrentes das queimadas no Parque Nacional de Brasília. O objetivo foi proteger a saúde e a segurança da comunidade acadêmica e administrativa.

Com isso, além do monitoramento, Henke se baseou em dados do sensor de monitoramento de qualidade do ar instalado na Escola Classe 115 Norte. O gráfico do sensor mostrou três picos de dispersão de partículas decorrentes do incêndio, entre 16 e 18 de setembro. Segundo o especialista, as exposições foram curtas, com concentrações muito elevadas de poluentes, que superam mil microgramas por metro cúbico.

A concentração máxima de poluente atmosférico do tipo material particulado fino admitida pela Resolução 506/2024 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em condições de referência é de até 60 microgramas por metro cúbico. A quantidade de 250 microgramas por metro cúbico já configura emergência. “Eu começo a me preocupar quando sobe acima de 40 por um longo tempo de exposição”, diz o professor.


Professor da UnB se baseou em dados do sensor de monitoramento de qualidade do ar instalado na Escola Classe 115 Norte / Foto: Reprodução/UnB

O mapeamento móvel da poluição feito pelo Projeto Prometeu percorreu, por duas horas, o trecho da UnB à Granja do Torto, retornando pela Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia). Nas proximidades do Parque Nacional, a sonda móvel do projeto captou índices máximos de 939 microgramas por metro cúbico de material particulado fino disperso na atmosfera.

Impactos

O incêndio no Parque Nacional traz uma série de prejuízos para a sociedade e meio ambiente. Ao Brasil de Fato DF, o presidente do ICMBio, Mauro Pires, já havia destacado que a regeneração para algumas espécies e alguns lugares demanda muito tempo. “Nós estivemos no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros semana passada e lá vimos uma área que pegou fogo em 2017 e que ainda não se recuperou”, informou. 

“Sem dúvida que é um prejuízo muito grande e que custa muito dinheiro. A infraestrutura montada para fazer esse combate é grande, e essa é a parte que conseguimos mensurar, mas e o impacto na biodiversidade, o gás carbônico que foi emitido e contribuem para o aquecimento global? E as espécies que nós eventualmente perdermos? Isso realmente é um prejuízo que a gente não tem como dizer o tamanho”, apontou Pires.

Em relação à fauna, o ICMBio informou, por nota, que uma anta foi resgatada com as patas queimadas. O macho jovem foi levado ao Zoológico de Brasília, onde foi medicado e está em repouso. Outro caso de resgate foi de um filhote de anta, levado ao Hospital Veterinário do Hospital Universitário de Brasília (HUB) em estado crítico com vários machucados e suspeita de pneumonia. “Não foram avistados casos de animais com baixo peso ou desidratados por conta do fogo”, esclareceu o órgão.

Para o professor da UnB, Carlos Henke, os impactos à biodiversidade são imensuráveis. “Foi um fogo muito intenso, mas controlado em cinco dias, enquanto há incêndios em outros estados que duram semanas. Se nós, em Brasília, tivemos essa sensação horrível de não conseguir respirar, imagina o que não é o trabalho do combatente florestal”, disse.

E deixou o alerta: “O que aconteceu conosco aqui na capital do Brasil não pode ser uma lição esquecida. Incêndios florestais são terríveis, mas é possível prevenir. É preciso que o Estado invista recurso nos órgãos ambientais. Orçamento para órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) cortado significa incêndio estabelecido”.

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Da Redação