Disputa acirrada em Campina Grande (PB) ameaça hegemonia da família Cunha Lima

Brasil de Fato

Após décadas no comando de Campina Grande, a família Cunha Lima se vê ameaçada por uma eleição em que o atual prefeito, Bruno Cunha Lima (União Brasil), enfrenta uma disputa intensa com Dr. Johny Bezerra, candidato do PSB.

Mesmo liderando as pesquisas com 48% das intenções de voto contra os 42% de Bezerra, de acordo com a mais recente pesquisa da Real Time Big Data,  a pequena margem indica um segundo turno disputado, marcando uma possibilidade virada na política local.

Segundo Felipe Baunilha, do Movimento Brasil Popular, a candidatura de Dr. Johny representa uma chance de quebrar a hegemonia de mais de 30 anos dos Cunha Lima na cidade. “É a aposta do governador para tentar quebrar essa hegemonia que sempre foi dominada pela família Cunha Lima”, afirma.

As articulações no segundo turno

Bruno Cunha Lima, atual prefeito e herdeiro político da família, vem de uma longa tradição de poder em Campina Grande, inaugurada com Ronaldo Cunha Lima, em 1983. Autodeclarado “cristão salvo pela graça” em seu Instagram, Bruno angariou apoio conservador no segundo turno, especialmente com a adesão de Artur Bolinha (Novo), um bolsonarista que condicionou seu apoio à retirada de propostas voltadas à população LGBTQIA+ do plano de governo do prefeito.

Em Agosto, o diretório do Psol em Campina Grande, entrou na justiça contra a candidatura de Bolinha por uma suposta apologia à supremacia branca. Em resposta às acusações, Artur Bolinha afirmou que o gesto apresentado em seu perfil nas redes sociais refere-se ao número 30, que é o número do partido Novo, pelo qual ele concorre à prefeitura. Bolinha declarou que ficou surpreso com a interpretação dada pelo Psol e negou qualquer associação do gesto com ideologias racistas.

Para Baunilha, essa aliança evidencia o vínculo da família Cunha Lima com a extrema direita. “A extrema direita está aliada com o Cunha Lima desde o primeiro turno. Os Cunha Lima nunca se desvencilharam desse legado com a extrema direita”, pontua.

Já o candidato Dr. Johny Bezerra, do PSB, busca fortalecer uma aliança progressista, contando com o respaldo de João Azevedo, governador da Paraíba e ex-chefe de Bezerra na Secretaria de Saúde estadual. Luciano Nascimento, professor de Direito da UFPB, comenta a oportunidade que essa candidatura representa: “O PSB pode construir um feito, afastando essa oligarquia, o que renovaria enormemente a política em Campina Grande”.

Para fortalecer sua candidatura, Dr. Johny uniu no segundo turno as forças progressistas, atraindo os candidatos do PCdoB e Psol derrotados no primeiro turno, e trazendo ao seu palanque líderes do partido, como João Campos, prefeito do Recife, na reta final da campanha.

Felipe Baunilha destaca que esse amplo leque de alianças é crucial para o enfrentamento: “O governo João Azevedo vem apresentando bons números na saúde, o que favorece Dr. Johny, ex-secretário de saúde, para ser visto como um bom gestor com capacidade de enfrentar a hegemonia dos Cunha Lima”.

João Pessoa: direita dividida e derrota progressista
 

Em João Pessoa, a rivalidade concentra-se entre direita e extrema direita. O atual prefeito, Cícero Lucena (PP), enfrenta o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, Marcelo Queiroga (PL). Apesar de Lucena estar envolvido em investigações policiais por suspeitas de relação com organizações criminosas, ele lidera as pesquisas e conta com apoio crítico de setores progressistas.

Queiroga, por sua vez, ganhou reforço do seu principal aliado, o ex-presidente Bolsonaro, que esteve na cidade para uma carreata. 

A esquerda, por outro lado, sofreu um revés, com Luciano Cartaxo (PT) ficando em quarto lugar, mesmo após reunir partidos progressistas no primeiro turno.

Da Redação