Prefeitura de Nunes completa 400 dias sem repassar recursos da Lei Paulo Gustavo e artistas vão às ruas em SP

Brasil de Fato

Trabalhadores da cultura da cidade de São Paulo denunciam que a prefeitura, sob gestão de Ricardo Nunes (MDB), está retendo a verba federal da Lei Paulo Gustavo destinada ao setor. Com esse mote, cerca de 200 manifestantes caminharam do Teatro Municipal até a Secretaria de Cultura da capital paulista nesta segunda-feira (2). Há 400 dias os selecionados do edital aguardam o financiamento a que têm direito, alegam.  

Os artistas criticam, ainda, o processo seletivo para acessar os recursos. Dos 3.024 inscritos da cidade de São Paulo, apenas 283 foram selecionados. O número representa 9,35% dos grupos e trabalhadores da cultura que buscaram estes recursos para viabilizar seus projetos.  

“Pedimos que seja feita a seleção de forma correta, porque o edital foi mal construído e mal elaborado pela Secretaria de Cultura. Isso está gerando diversas listas, tanto de selecionados como de pessoas inabilitadas. A última lista que saiu agora, no dia 29 de agosto, inabilitou diversos coletivos e grupos que se basearam no que estava escrito no edital”, destaca a musicista e brincante Olivia de Lucas.  

Os recursos federais chegaram para a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo em 27 de julho de 2023. Até o momento, nenhum dos artistas, mestres ou coletivos foi pago.  

“Como é que o prefeito, em campanha, retém um dinheiro que é federal e destinado a trabalhadores da cultura Nesse momento, a gente poderia estar dedicado aos projetos que já foram apresentados e aprovados, mas estamos aqui, mais uma vez, pedindo o óbvio”, ressalta Rita Teles, presidenta do Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo (Sated-SP).  

“Recebemos cotidianamente pedidos de ajuda, até hoje chega pedido de ajuda de cesta básica para artistas e técnicos”, relata Teles. 

A atriz e produtora Ana Szcypula, integrante do Refinaria Teatral, descreve a falta de remuneração como um “sufocamento”: “Como artistas, estamos sempre aos trancos e barrancos. Esse dinheiro iria fazer muita diferença para vários coletivos”.  

Teles classifica a gestão de Ricardo Nunes como “inimiga da cultura”. “Estamos diante de um absurdo, essa prefeitura é inimiga da cultura. E a gente sabe a mando de quem está o discurso e a ideologia desta gestão, mas a gente não está aqui requerendo nada além do que é nosso direito”, afirma. 


Este é o segundo protesto com a mesma reivindicação feito pelos trabalhadores nos últimos cinco meses / Pedro Stropasolas

Lei Paulo Gustavo 

Sancionada em julho de 2022 como uma medida emergencial de apoio aos trabalhadores da cultura durante a pandemia de covid-19, a Lei Paulo Gustavo (nº 195/2022) passou a ser uma política de fomento ao setor de mais longo prazo. Os R$ 3,8 bilhões disponibilizados pelo governo federal são destinados para a execução de projetos culturais em todo o país.  

“Foi muita batalha para conseguir porque a correlação de forças no Congresso Nacional era muito difícil”, lembra a deputada federal Sâmia Bomfim (Psol), que participou do processo de aprovação da legislação e esteve na manifestação desta segunda-feira. 

“Era o governo Bolsonaro ainda e antes das eleições. Então houve uma série de conflitos e dificuldades, mas, ainda assim, nós conseguimos aprovar. E agora acontece que a prefeitura de São Paulo está simplesmente se negando a cumprir a lei”, salienta. 

“Nenhum centavo é do cofre da prefeitura, que aliás tem bastante dinheiro em caixa, como todo mundo. Todo recurso é do governo federal e já está na conta da prefeitura”, ressalta a deputada. 

O Brasil de Fato entrou em contato, por telefone e e-mail, com a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e, até o momento, não teve resposta. O espaço segue aberto, caso a prefeitura queira se manifestar. 

Da Redação