Brasil, México e Colômbia pedem ‘verificação imparcial’ e ‘saída institucional’ na Venezuela
Brasil de Fato
Os governos de Brasil, Colômbia e México divulgaram nesta quinta-feira (1) comunicado conjunto em que reforçam o pedido de divulgação de dados por mesa de votação nas eleições venezuelanas do último domingo. Os três governos de esquerda apontam que “as controvérsias sobre o processo eleitoral devem ser dirimidas pela via institucional” e que o resultado do pleito deve passar por “verificação imparcial”.
“Acompanhamos com muita atenção o processo de escrutínio dos votos e fazemos um chamado às autoridades eleitorais da Venezuela para que avancem de forma expedita e divulguem publicamente os dados desagregados por mesa de votação. As controvérsias sobre o processo eleitoral devem ser dirimidas pela via institucional. O princípio fundamental da soberania popular deve ser respeitado mediante a verificação imparcial dos resultados.”
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A divulgação das atas se tornou o principal tema envolvendo as eleições da Venezuela. A oposição afirma ter mais de 80% das atas e que isso garantiria a vitória de Edmundo González Urrutia.
O CNE divulgou que Nicolás Maduro venceu as eleições da Venezuela com 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González Urrutia, com 80% das urnas apuradas, o que indicaria uma situação irreversível. Segundo a lei eleitoral, o CNE tem 30 dias para publicar os resultados eleitorais da Gazeta Oficial do país. O órgão, no entanto, não tem a obrigação de publicar uma foto de cada ata. O governo divulga os resultados compilados das atas.
A oposição não só questionou o resultado do pleito – antes mesmo do anúncio do CNE – como convocou protestos de rua. Os atos, no entanto, começaram com caráter violento, seguindo a conduta das guarimbas em 2013 e 2017. Desde segunda-feira (29), manifestantes da extrema direita têm apedrejado prédios públicos e incendiado sedes de partidos de esquerda. Na quarta-feira (31) os protestos começaram a perder um pouco de força e diminuíram de tamanho.
No comunicado, os governos dos três países fazem um chamado “aos atores políticos e sociais a exercerem a máxima cautela e contenção em suas manifestações e eventos públicos, a fim de evitar uma escalada de episódios violentos”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esperou dois dias para se pronunciar sobre o resultado das eleições da Venezuela. A vitória de Nicolás Maduro para um terceiro mandato foi anunciada no domingo (28) e, na terça-feira (30), o chefe do Executivo brasileiro disse que via o processo eleitoral com normalidade e pediu para que os envolvidos esperassem a divulgação das atas eleitorais antes de fazer acusações.
Eleição, suposta fraude e violência: como chegamos até aqui?
A votação no último domingo (28) ocorreu com tranquilidade, segundo as próprias autoridades eleitorais. Os resultados definitivos foram divulgados por volta da 1h da manhã da segunda-feira (29) pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
No palácio de Miraflores e rodeado por apoiadores, Maduro fez seu discurso da vitória, no qual agradeceu os eleitores e pediu respeito aos resultados eleitorais. “Haverá paz, estabilidade e justiça. Respeitem a decisão de 28 de julho”, disse. Minutos depois, a oposição se manifestou e não reconheceu os resultados. González apareceu acompanhado de Maria Corina Machado, líder opositora que, por complicações com a Justiça, foi inabilitada de ocupar cargos públicos no país, e disse que era o vencedor da disputa.
Sem apresentar provas, os opositores alegaram uma “fraude eleitoral” e disseram ter atas de votação que supostamente comprovariam a divergência nos números. Após a postura de González e Machado, o dia seguinte foi de tensão e violência. Marchas foram registradas em redutos historicamente opositores de Caracas, capital venezuelana, e manifestantes chegaram a incendiar prédios e patrimônios públicos.
O governo denunciou as ações, responsabilizou os opositores pela violência e classificou o movimento como uma “tentativa de golpe de Estado”. Na noite da segunda-feira (29), Edmundo González e Maria Corina Machado voltaram a denunciar a existência de “fraude eleitoral” e, desta vez, deram números: supostamente, o candidato de direita teria vencido com mais de 6 milhões de votos.
Eles ainda alegaram estar em posse de mais de 70% das atas eleitorais que comprovariam este resultado e que esses documentos seriam disponibilizados em um site.
Até às 19h (horário de Brasília) do dia 1 de agosto, o CNE, por sua vez, ainda não havia divulgado a totalização dos resultados. Os números são aguardados por países como Brasil, Colômbia e México para uma posição final sobre o processo.