Volta do recesso aquece negociações sobre sucessão de Lira na presidência da Câmara; veja os candidatos mais cotados
Brasil de Fato
Com o fim do recesso e a volta oficial do calendário legislativo neste mês de agosto, o tabuleiro da Câmara dos Deputados já começa a registrar novos movimentos políticos relacionados à sucessão de Arthur Lira (PP-AL), que deixa o posto de presidente da Casa no início de fevereiro de 2025. Até o momento, pelo menos quatro parlamentares são apontados como possíveis candidatos.
As tratativas que envolvem o lançamento das chapas incluem desde a negociação de postos em direções partidárias e na mesa diretora da Câmara até indicações para o Tribunal de Contas da União (TCU), por exemplo. Atualmente, a instituição conta com o ministro Aroldo Cedraz como indicado pelos deputados em 2007, mas ele se aposenta em 2026, por isso o posto tende a ser negociado nas costuras relativas à eleição. Também paira no cenário a possibilidade de os parlamentares precisarem escolher, nos próximos anos, um substituto para o ministro Augusto Nardes, que pode adiantar a aposentadoria. É outro cargo que pode figurar nos acordos entre os partidos.
Tende a entrar na conta ainda a sucessão de Lula (PT) em 2026, quando deverão ser menores do que em 2022 as chances de o petista conseguir alinhavar em torno de si uma frente de apoiadores com representantes de distintos campos ideológicos.
Nas discussões sobre a eleição da Câmara, é ponto de relevo ainda o apoio de Arthur Lira. O apadrinhamento do pepista é tido pelos parlamentares como elemento de distinção na corrida, já que o presidente é a figura mais influente da Casa e foi reeleito para o posto em fevereiro de 2023 com votos de 464 dos 513 colegas.
Paralelamente a isso, é de entendimento geral na Câmara que, por não poder se candidatar mais uma vez ao posto, o presidente tem interesse em emplacar um sucessor como forma de manter algum destaque no jogo político e evitar o limbo ao qual geralmente são relegados os ex-presidentes da Câmara. O pepista disse, em entrevista recente ao Valor Econômico, que pretende investir na pactuação de um acordo para que seja definido apenas um candidato do campo majoritário da Casa – a estratégia seria também uma forma de assegurar sua influência nos próximos anos –, mas até agora não há sinalizações efetivas dos pré-candidatos nesse sentido.
Lira também busca apoiar um candidato que tenha a anuência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ainda influente entre outros parlamentares, e que, ao mesmo tempo, não seja censurado pelo governo Lula. O objetivo do presidente da Câmara é tentar definir um nome ainda em agosto, de forma a evitar grandes problemas em torno do assunto durante as eleições municipais. Apesar disso, a tendência é que as tratativas em torno da campanha rumo à presidência fiquem mais evidentes após o pleito de outubro.
Veja abaixo quais são os quatro parlamentares que disputam o suporte de Lira para a corrida.
Elmar Nascimento (União-BA)
O parlamentar baiano é o atual líder da bancada do União Brasil, que reúne 58 deputados, e também é um dos vice-líderes do bloco que liga a sigla a outros seis partidos da Casa (PP, PDT, Avante, PRD, Solidariedade e Federação PSDB-Cidadania). Essa aglutinação, no entanto, não afeta diretamente a configuração de forças das eleições para a mesa diretora, que segue uma conjuntura própria e vinculada a outros elementos do cenário político do Congresso.
Desde o ano passado Elmar Nascimento tem chamado a atenção, por exemplo, por conta de festas que passaram a ser lidas, nos bastidores, como capítulos prévios de sua campanha e como demonstração de força para concorrer à sucessão de Lira. Entre elas, o parlamentar do União Brasil esteve em festa de réveillon que reuniu 20 deputados na Bahia, em dezembro. Ele também conseguiu articular a presença de cerca de 80 parlamentares no que foi chamado de “Elmar Folia”, no carnaval deste ano em Salvador (BA).
Em julho, ele organizou, em Brasília (DF), uma festa de aniversário que atraiu diferentes lideranças do Congresso e do governo Lula, incluindo ainda nomes como o do ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, cassado em 2016. Todos esses eventos contaram também com a presença de ninguém menos que Arthur Lira, o que ampliou os rumores de que Elmar seria o candidato favorito do pepista em busca do cargo de presidente. O alagoano não assume posições explícitas publicamente, mas deputados afirmam, nos subterrâneos, que ele já teria feito sinalizações a favor de Elmar.
Marcos Pereira (Republicanos-SP)
Outro nome apontado como um dos principais à corrida é o do 1º vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira, que lidera nacionalmente o Republicanos desde 2011, quando o partido ainda atendia pela sigla PRB. A legenda elegeu 40 nomes para a Câmara dos Deputados em 2022 e hoje conta com 44 membros. O partido é ligado à Igreja Universal, onde Pereira atua como bispo. O deputado também é um dos nomes mais influentes da bancada evangélica, segmento marcado especialmente pelo perfil reacionário, sendo caracterizado pela defesa de bandeiras como a criminalização total do aborto e outras pautas.
Pereira, que ao longo de sua gestão no Republicanos fez a sigla ganhar tamanho e realce político, hoje utiliza sua influência para tentar atrair para a campanha à presidência da Câmara não apenas Arthur Lira, mas também o centrão e nomes como o do colega de partido e governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Apesar de um conjunto de problemas envolvendo sua gestão, Freitas tem conseguido manter o apoio de parcela significativa do eleitorado do estado, em cuja bancada legislativa Marcos Pereira busca atrair mais apoios. São Paulo tem a maior bancada da Câmara, com 70 deputados.
Hugo Motta (Republicanos-PB)
Correligionário de Marcos Pereira, Hugo Motta também figura nos bastidores da Casa como suposto candidato ao posto de Lira, embora já tenha negado isso a alguns veículos de imprensa. O deputado é o atual líder da bancada do Republicanos e presidente estadual do partido na Paraíba, estado que representa na Câmara desde 2011. Motta também é próximo de Lira e tem boa relação com nomes do governo Lula.
Antônio Brito (PSD-BA)
Por fim, um dos outros destaques na corrida é o deputado Antônio Brito, líder do PSD na Câmara e também do bloco que reúne, além do partido, as siglas MDB, Republicanos e Podemos. A legenda do parlamentar tem 44 cadeiras na Casa, onde Brito tenta atrair também o apoio de outros nomes. O deputado tem proximidade com figuras do governo Lula e trânsito com o centrão, bloco majoritário na Casa, mas seu principal cabo eleitoral tem sido Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD.
Kassab é um personagem influente na política nacional, tendo sido prefeito de São Paulo (2006-2012), ministro das Cidades do governo Dilma entre 2015 e 2016 e, na sequência, ministro da Ciência e Tecnologia do governo Temer até 2018. Brito tem contado não só com o patrocínio de Kassab como também tem buscado apoio dentro do PL, partido de Jair Bolsonaro, e nomes de outras legendas conservadoras.
O nome do parlamentar foi destaque em maio deste ano, por exemplo, em pesquisa Genial/Quaest feita com deputados sobre em quem eles votariam para presidente da Câmara. A sondagem teve Brito em primeiro lugar, com 23% das intenções de voto; na sequência, Elmar Nascimento, com 15%; Marcos Pereira, com 13%; e, depois, Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), respectivamente com 10% e 3%, sendo ambos nomes que foram ventilados, mas até agora não ganharam evidência entre as costuras de bastidor.
Antônio Brito também ganhou proeminência em um levantamento feito pelo portal Poder360 em junho deste ano para calcular o grau de governismo dos possíveis candidatos a substituto de Lira. O líder do PSD teve 95% de alinhamento à gestão Lula, enquanto Bulhões apareceu com 94% e Doutor Luizinho (PP-RJ) – outro nome que não decolou, mas foi levantado meses atrás – teve 87%. Marcos Pereira e Elmar Nascimento aparecem na sequência, com 86% e 85% de adesão, respectivamente. A pesquisa utilizou como referência orientações dadas pela liderança do governo nas votações da Câmara na atual gestão, ou seja, desde fevereiro de 2023.
Campo progressista
Enquanto os partidos do campo da direita desfilam seus candidatos, no campo progressista, há pouca definição até o momento. As exceções são o PDT, cuja executiva nacional aprovou, em julho, um indicativo de apoio a Elmar Nascimento, e o PSB, que deve se somar ao palanque do líder da bancada do União Brasil por ter feito um acordo com a legenda em troca do apoio a candidatura à reeleição do prefeito João Campos (PSB) em Recife (PE).
No PT, partido que tem a maior bancada do segmento e a segunda maior da Câmara, com 68 deputados federais, só deve haver um posicionamento mais nítido após as eleições de outubro, segundo fontes que conversaram em off com a reportagem. As lideranças ouvidas apontam que “muito dificilmente” a sigla terá candidato próprio porque, entre outras coisas, por ser minoria diante do conjunto da Casa, o partido tenderia a naufragar num eventual segundo turno da disputa. A tendência é que o PT acabe apoiando alguém do centrão. O nome a ser escolhido vai depender das articulações adiante.
Já o Psol ainda não definiu os rumos a serem tomados pela sigla, mas fontes do partido projetam, nos bastidores, que, diante do quadro de forças e dos atuais pré-candidatos que figuram no cenário, a legenda pode eventualmente lançar um candidato próprio para marcar posição, como fez em outras eleições, ou se aliar a algum outro partido progressista. A previsão é de que os 13 deputados da sigla conversem internamente sobre o assunto ainda em agosto.