BRB gastou 63% do seu lucro em patrocínios em 2023, aponta estudo do Dieese

Brasil de Fato

De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entre 2018 e 2023, o Banco de Brasília S.A. (BRB) aumentou em 1.500% os gastos com patrocínios e ações de publicidade, saindo de R$ 7,68 milhões em 2018 para R$ 129 milhões para 2023. O levantamento realizado a pedido do Sindicato dos Bancários de Brasília é considerado desproporcional, considerando que o montante equivale a 63% do lucro anual da instituição pública.

Dentre os principais beneficiários dos patrocínios do BRB está o Flamengo, que recebeu mais de R$ 153,18 milhões entre 2020 e 2023. Para 2024, foi previsto um acréscimo de R$ 40 milhões em patrocínio. Além do futebol carioca, existe também o apoio ao automobilismo como por exemplo, aos pilotos Lucas Foresti, Enzo Elias e Gabriel Bortoleto.


Fontes: DODF, BRB, IBGE e reportagem do UOL “Flamengo tem como plano B oferta de patrocínio de R$ 85 milhões por ano”/ Imagem: DIEESE – Subseção Bancários DF

De acordo com o diretor do sindicato dos bancários e funcionário do BRB, Daniel de Oliveira, o banco tem autonomia para alocar recursos conforme seu planejamento, mas, na prática, pode ficar submetido aos interesses do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB). Ele cita como exemplo a relação com o Flamengo, time de futebol do governante. “Ano passado, o banco gastou milhões com patrocínios e com o Flamengo, sem incluirmos o marketing”.

“A principal preocupação é que esses investimentos não estão trazendo o retorno esperado e o banco está cortando custos em áreas essenciais, como pessoal, não contratando os aprovados, o que afeta diretamente a qualidade dos serviços e o bem-estar dos funcionários”, alerta.


Fontes: DODF, BRB, IBGE e reportagem do UOL “Flamengo tem como plano B oferta de patrocínio de R$ 85 milhões por ano”/ Imagem: DIEESE – Subseção Bancários DF

Comparação com outros bancos

De acordo com o levantamento, os gastos com patrocínios do BRB equivalem a 63% da lucratividade anual da instituição e supera a soma dos patrocínios dos bancos estaduais do Espírito Santo, Pará e Rio Grande do Sul.

Em 2023, o Banestes gastou R$ 6,21 milhões de sua receita com patrocínios, o Banpará gastou R$ 17,59 milhões e o Barinsul gastou 81,41 milhões com ações de patrocínios. Já o BRB gastou 129,26 milhões de um lucro líquido de 204,88 milhões.


Fontes: DODF, BRB, IBGE e reportagem do UOL “Flamengo tem como plano B oferta de patrocínio de R$ 85 milhões por ano” / Imagem: DIEESE – Subseção Bancários DF

Segundo a economista Paula Reisdorf, assessora técnica do Dieese, “os outros bancos estaduais gastam menos de 10%”. O Banestes gastou menos de 2%, o Banpará, 6%, e o Banrisul, que é o maior patrocinador de dois grandes times de futebol, Grêmio e Inter, gastou pouco mais 9%.

Já o Banco do Brasil, uma das principais instituições financeiras do país, gastou pouco mais de R$ 155 milhões em patrocínios no mesmo período, representando apenas 0,46% de seu lucro líquido. Em termos comparativos, em 2023, o Banco do Brasil obteve um lucro 165 vezes superior ao do BRB, contando com 25 vezes mais funcionários, mas investiu apenas 1,2 vezes o valor que o BRB destinou a patrocínios.

Daniel Oliveira destaca que desse total investido pelo banco, “não incluem os 40 milhões de reais gastos em marketing no ano de 2023”.

 


Fontes: DODF, BRB, IBGE e reportagem do UOL “Flamengo tem como plano B oferta de patrocínio de R$ 85 milhões por ano” / Imagem: DIEESE – Subseção Bancários DF

Atrasos e demandas não atendidas

Segundo Daniel de Oliveira, os gastos excessivos do BRB afetam os investimentos necessários em outras áreas da instituição. “Esses gastos têm obrigado o banco a reduzir custos em outros setores, resultando em falta de pessoal; um sintoma dessa prioridade equivocada”, explica.

A categoria dos trabalhadores Bancários esteve em mobilização durante dois meses até setembro de 2024 por reajuste salarial e aumento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR).

“Na campanha salarial, os itens financeiros foram os mais refutados pelo banco nas negociações, e o pagamento da PLR, uma das menores no sistema financeiro, só demonstra o caminho errado que a gestão do banco está seguindo”, relata Daniel de Oliveira.

Para o bancário e dirigente sindical Edson Martins nas negociações, o BRB adotou um tratamento burocrático durante as negociações. “Houve uma tentativa de intimidação dos bancários e do movimento sindical com a publicação de um manual interno retirando o direito à incorporação administrativa da remuneração em caso de perda de posição no banco às vésperas da primeira assembleia”.

Foram mais de treze rodadas de negociação com a hierarquia institucional buscando rebaixar as demandas dos profissionais ativos. “Os avanços principais vieram depois da primeira proposta do banco ter sido rejeitada pelo corpo funcional. Apesar do balanço final positivo, boa parte da pauta dos trabalhadores não foi atendida ou foi atendida de maneira indireta e genérica”, afirma Martins.


Em agosto, bancários do BRB protestaram contra a intransigência da instituição financeira na mesa de negociação da Campanha Nacional 2024. / Foto: Ana Bering

Falta de transparência

Para a economista do Dieese, Paula Reisdorf, uma série de informações contraditórias ou inconsistentes por parte do GDF foram verificadas ao longo da produção do relatório. “Identificamos várias falhas na divulgação dos gastos com patrocínios pelo banco. Além de não incluir o Flamengo como patrocínio e não divulgar alguns demonstrativos de despesas com patrocínios do Cartão BRB, o banco frequentemente ajustou os demonstrativos com gastos com patrocínio para se adequar ao orçamento planejado”, afirma.

Ela detalha que depois que o banco divulgou o gasto de R$ 24 milhões com patrocínios no segundo trimestre do ano passado, “ele revisou esse valor para R$ 15 milhões depois de divulgar os gastos totais do ano, não dando uma explicação para essa correção. Dessa forma, para não ultrapassar o valor de R$ 82 milhões orçados para 2023, o BRB diz ter gasto R$ 81 milhões (não inclui Flamengo e o patrocínio das subsidiárias)”. 

A economista calcula que “somando os valores originais que o banco disse ter gastado em cada trimestre, o banco teria gastado R$ 13 milhões a mais em 2023, ou seja, teria ultrapassado o valor orçado para esse ano. Para o estudo do Dieese, sempre usamos os valores divulgados mais recentemente, que acabaram sendo os valores mais baixos”.

No 2° e 4° trimestres de 2023, trimestres em que os dados com patrocínio do Cartão estão disponíveis, esta subsidiária do banco gastou aproximadamente R$2,1 milhões.

“Se assumirmos que a Cartão gastou o mesmo valor nos dois trimestres para quais os dados não estão disponíveis do mesmo ano, o valor total de patrocínios do banco em 2023 teria sido de R$ 131,4 milhões, em vez de R$ 129,3 milhões, ou seja sem uma diferença tão significativa para o tamanho do patrocínio do BRB, mas, sempre seria um valor maior àquele que nós divulgamos”, avalia Reisdorf.

O relatório do Dieese também informa que “não foram encontrados os demonstrativos do DODF da Cartão BRB (BRB Card) do 1° trimestre de 2020, dos 2° e 3° trimestres de 2022 e dos 1° e 3° trimestres de 2023. Por isso, o valor total de patrocínios poderia ser ainda maior”.

O Sindicato dos Bancários denunciou os gastos considerados “alarmantes” ao Ministério Público de Contas do DF. Em resposta ao Brasil de Fato DF sobre a tramitação da denúncia o órgão disse que a investigação está em andamento sob sigilo. “A investigação está em andamento sob sigilo e sendo conduzida pelo Gabinete da Primeira Procuradoria. Caso sejam identificadas irregularidades, o Ministério Público de Contas do Distrito Federal (MPCDF) poderá apresentar uma Representação ao Tribunal de Contas do DF. Devido ao sigilo do procedimento, o MPCDF não emitirá comentários adicionais sobre o caso”, diz a nota.

Plano de expansão

Já o BRB considera que as ações publicitárias fazem parte de um plano de plano de expansão nacional da marca, que é alinhada ao Planejamento Estratégico do banco. “O BRB optou por associar sua imagem a grandes projetos nacionais e internacionais, concentrando a maior parte do orçamento em ações de patrocínio”.

Depois que o sindicato divulgou o estudo do Dieese, o BRB emitiu alguns comunicados internos justificando o vício em estratégias de marketing mencionando que gastos com patrocínios são mais baratos do que gastos com publicidade tradicional.

Entretanto, Paula Reisdorf questiona que “o banco não vem diminuindo seus gastos com publicidade tradicional. Entre 2022 e 2023, os gastos com patrocínio aumentaram 83%, os gastos com publicidade tradicional aumentaram também, em 5%”.

O banco também destaca que, para efeito de comparação do grau de investimento publicitário do BRB em relação aos demais bancos públicos brasileiros, “basta dividir o valor investido pelo total de clientes de cada instituição. A média geral é de R$12 reais. Com R$ 77,7 milhões, o BRB investiu somente R$ 10 por cliente, conforme informações extraídas dos portais de RI dos bancos”.

Em outro informe, destaca que “o processo de nacionalização da marca BRB foi responsável pelo incremento da base de clientes que passou de pouco mais de 600 mil pessoas para cerca de 7,5 milhões em apenas 5 anos. Em linha com o planejamento estratégico da instituição, o recurso destinado aos patrocínios trouxe um retorno de mídia de R$ 366,19 milhões contra R$ 77,7 milhões investidos no ano de 2023”.

Questionados pelo Brasil de Fato DF sobre os patrocínios, o BRB informou em nota que “as ações de patrocínio e relacionamento do Banco têm por objetivo fortalecer a marca, fomentar negócios, divulgar produtos e ampliar relacionamentos com clientes. As ações de patrocínio seguem, ainda, prática do mercado bancário nacional, os limites da Lei das Estatais e permitiram a expansão nacional do Banco, hoje presente em 95% de todo o território nacional”.


Entre 2022 e 2023, os gastos com patrocínio aumentaram 83%. / Foto Paulo H. carvalho/Agência Brasília

Daniel de Oliveira considera essa justificativa duvidosa, pois “na base de clientes que o BRB alardeia não se reflete em uma melhora real nos resultados do banco. Isso significa que a maioria dessas contas não está ativa e não realiza negócios com o BRB, os que operam muitos estão nos trazendo prejuízos, servindo apenas para inflar os números. Além disso, o BRB continua com um número muito baixo de funcionários, mesmo com o crescimento das agências, mantendo um quantitativo semelhante de funcionários nos últimos anos”.

“Os R$ 366 milhões que o banco alega como retorno não representam um ganho real, mas sim o valor que teria sido gasto caso a mesma exposição fosse feita por meio de publicidade. Na realidade, deixar de gastar não é o mesmo que ganhar”, conclui Daniel.

Paula Reisdorf analisa que o posicionamento do BRB não esclarece a origem desses números apresentados institucionalmente, além de recair em problemas de baixa transparência orçamentária.

“No ano passado o banco deu um lucro de apenas R$ 204 milhões, o pior resultado desde 2016. No primeiro trimestre deste ano, o banco deu um prejuízo, de R$ 42 milhões e o banco nem divulgou esse balanço no próprio site, como costuma fazer, para tentar esconder essa realidade”.

Ela retoma a comparação com outros bancos e afirma que “considerando os dados de 2023, o BRB deu apenas R$ 27 de lucro por cliente, enquanto o Banestes deu R$ 261, o Banpará deu R$ 264, o Banrisul deu R$ 162 e o Banco do Brasil deu R$ 448. Por isso, essa comparação com clientes não mostra quão elevado estão esses gastos com patrocínio”.

Da Redação